"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros." (Che Guevara)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Favela da Maré resiste: o necessário debate sobre a militarização das favelas.

Já se passaram vários meses desde que começou a ocupação militar na Favela da Maré. O discurso oficial do Estado é que se trata de "pacificação", contudo, desde que a operação começou tivemos 12 assassinatos no interior da Maré e 16 no entorno e várias denúncias de racismo, agressões, torturas e humilhações cometidas pelo Exército contra os moradores. O Rio de Janeiro é o melhor exemplo dessa política de militarização das favelas. A política de UPP é mostrada como um grande sucesso em um discurso repetitivo e monolítico escondendo o aumento brutal do número de desaparecimentos, torturas, humilhações, agressões e medo nas comunidades. O caso Amarildo foi um dos muitos que acontecem diariamente; um dos poucos que ficou famoso.

Reprodução

A associação de moradores da Maré relatou as torturas e abusos e solicitam audiência com o secretário de segurança para resolver a questão [1]. Esses casos não são isolados. A política de militarização das favelas está diretamente associada à política de privatização das cidades. As favelas serviram por anos a fio como um instrumento territorial de controle e segregação das classes trabalhadoras. Como o objetivo do Estado nunca foi moldar a dinâmica interna das favelas, mas garantir que as favelas cumprissem sua função de controle e segregação houve de certa forma uma "desterritorialização" do poder estatal. A dinâmica interna de solidariedade, produção cultural, relacionamentos sociais das favelas era controlada pelos próprios moradores. Com a necessidade de expansão do capital via especulação imobiliária e megaeventos, é necessário romper com a dinâmica interna das favelas, retomar o controle e destruir qualquer barreira à expansão do capital.

O modelo de cidade-negócio, que considera qualquer território da cidade como um potencial investimento de capital, necessita re-territorializar o poder do Estado e esmagar a resistência dos moradores. É essa a principal função das UPPs e da política de militarização. O combate ao "crime organizado" não passa da legitimação ideológica dessa política e o combate ao tráfico só é feito na medida em que o tráfico atrapalha os planos do capital (prova disso é que nas milícias ninguém mexe). Portanto, temos que ter claro: a ocupação militar na Favela da Maré não trouxe segurança para os moradores, não acabou com o medo, com a tortura, humilhações, racismo e assassinatos. Mas está preparando um ambiente saudável e seguro para os investimentos do capital.

Por fim, além disso tudo, cabe destacar a crueldade simbólica disso tudo. São gastos, por dia, 1,2 milhões de reis para manter a operação militar. Isso dá mais de 30 milhões por mês. Imagina o que não é possível fazer com mais de 30 milhões por mês? Pense a imagem simbólica que o Estado passa: vocês favelados nunca tiveram saúde, educação, transporte púbico, lazer, cultura, etc., sempre dizemos que não tinha verba e agora gastamos rios de dinheiro para manter o Exército na sua favela! Mais cruel impossível. Tudo isso apoiado veementemente por Dilma e pelo Governo Federal (ante dela, Lula foi um grande defensor da política de UPPs).

Por Jones Makaveli, graduando em História pela UFPE, pesquisador do NEEPD e militante da UJC.


[1] Matéria que retrata os casos de tortura: hhttp://odia.ig.com.br/…/moradores-do-complexo-da-mare-relat…


Página dos moradores da Maré retratando seu cotidiano sobre ocupação militar: https://www.facebook.com/Marevive?ref=ts&fref=ts

[Esse é um texto para a seção Crônicas Vermelhas, onde os militantes da UJC/PE opinam, comentam, debatem sobre diversos temas. Para acessar o conteúdo Crônicas Vermelhas basta acessar no "arquivo do blog por temática" a temática Crônicas Vermelhas, ir na página formação ou destaques, ou clicando no marcador dessa postagem.]

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