Favela, nome usado popularmente para denominar uma planta natural do nordeste, que nasce nos pés dos morros, e que após o episódio histórico da Guerra de Canudos foi utilizada para “apelidar” o conjunto de moradias prometidas pelo governo aos Soldados enviados para combater os rebeldes baianos, liderados por Antonio Conselheiro em 1896/97- e que nunca foi entregue, fato que motivou a ocupação do espaço pelas famílias dos soldados; surgia ai um dos primeiros morros do 25 de Janeiro, o Morro da Providência.
Como podemos ver o termo está ligado, historicamente, ao processo de luta e de resistência presente na história da maioria das favelas do nosso país e marca registrada de seu povo.
Não demorou muito para que esse tipo de ocupação se espalhasse para o resto do Brasil, visto que o problema de moradia não era um problema particular daquela região. Hoje as favelas se multiplicaram de forma desordenada, fruto da ausência do estado, que ao negar moradia digna às populações mais pobres, não se responsabilizou pelas ocupações que surgiram ao longo dos anos, nomeando-as de: “áreas socialmente degradadas”; formadas por moradias precárias, sem infra-estrutura e saneamento básico; caracterizadas como “invasão” construindo uma imagem marginalizada dessas ocupações, ou seja, das favelas.
A mídia tem modificado essa visão, contribuindo com a inversão real desta lógica; as favelas, agora categorizadas de comunidade, ganham glamour ofuscando termos como: segregação social e discriminação. Cito o programa ESQUENTA de Regina Casé, que cumpri um papel agregador de classes e me pergunto: O que estará por trás desse novo conceito?
Observando nossa mídia televisiva, percebemos a onda de programas e principalmente novelas, que usam como cenário a periferia e como temática, as abordagens em torno do cotidiano das comunidades. Nota-se uma crescente assimilação da “estética periférica”, entendida e denominada de f-a-v-e-l-a entre diretores, produtores- parte da burguesia, atores e telespectadores destes produtos. O que mudou? O que provocou a inversão dos olhares?
Outro dia estava usando a internet, navegando em uma dessas redes sociais, quando vi uma postagem que trazia a seguinte mensagem, dizia mais ou menos assim: “Deveriam pagar direitos autorais para as comunidades, diga-se de passagem, as favelas do Rio, pois é descarada a forma com que usufruem da nossa estética e cultura sem pagar nada!”
Podemos entender esse processo como um ato que distorce a verdadeira realidade das ditas comunidades, que são mostradas como um reino repleto de alegria e sem contradições, ou seja: as dificuldades enfrentadas e a verdadeira contradição de Classe não são mostradas, mas diluídas em questões cotidianas de um “povo sofredor, mas feliz”; típica de uma fantasia que explora a imagem e a cultura periférica. A cortina azul que esconde a história de resistência e luta de pessoas que vivem marginalizadas.
Sendo assim é deveras saber que a favela existe e se organiza a sua maneira, possuidora de uma cultura viva e rica e que sempre vai resistir, independente de ser mostrada ou não pela grande mídia. Se hoje a cultura periférica pode estar no alvo da massificação e vulgarização motivada pela indústria midiática/cultural, a mesma, vale lembrar, passou bastante tempo sendo colocada em um regime de apartheid, onde a burguesia invisibilizava tudo que saía e surgia dela.
Por Diego Rafael
- Militante da UJC e do PCB
[Esse é um texto para a seção Crônicas Vermelhas, onde os militantes da UJC/PE opinam, comentam, debatem sobre diversos temas. Para acessar o conteúdo Crônicas Vermelhas basta acessar no "arquivo do blog por temática" a temática Crônicas Vermelhas, ir na página formação ou destaques, ou clicando no marcador dessa postagem.]
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