FSD - [Por Denise Laizo] Você sabe qual é a origem da opressão da mulher? Você acha que a opressão sempre existiu? Você acha que a mulher oprimida é algo natural das relações humanas? Dica de leitura: “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”
Friedrich Engels, teórico revolucionário alemão, parceiro de Marx, afirma que a opressão da mulher tem uma origem, ou seja, não foi sempre assim. Engels, ao tratar sobre a passagem da organização coletiva da produção e de seu consumo para a organização privada (processo de formação das civilizações), ele diz:
“Convertidas todas as riquezas em propriedade particular das famílias, e aumentada depois rapidamente, assestaram um rude golpe na sociedade alicerçada no matrimônio sindiásmico e na gens baseadas no matriarcado… De acordo com a divisão do trabalho de então, cabia ao homem procurar a alimentação e os instrumentos de trabalho necessários para isso; consequentemente era proprietário dos referidos instrumentos… Assim, segundo os costumes daquela sociedade, o homem era igualmente proprietário do novo manancial de alimentação, o gado, e, mais adiante, do novo instrumento de trabalho, o escravo. Mas, consoante o uso daquela mesma sociedade, seus filhos não podiam herdar dele…”
Engels, então, está nos dizendo que em uma fase avançada do comunismo primitivo (sociedades pré-históricas, antes do surgimento do Estado), passam a existir técnicas de criação de animais, e se desenvolve ainda mais a agricultura, possibilitando fixar-se em um espaço e gerando um excedente de produção, ou seja, algo que não seria consumido pela própria comunidade e poderia ser trocado por outras coisas que necessitavam. Passa a existir então um acumulo de riquezas.
Neste período, os homens tinham como tarefa buscar os alimentos. A partir do momento em que ele não precisa mais ir atrás do alimento, pois este é criado e cultivado pelos membros do sexo masculino, esta produção passa a pertencer ao homem. Não só a produção, mas também os instrumentos deste trabalho. Assim, o excedente de produção, a riqueza acumulada, também pertencia ao homem.
Mas qual o problema disso? Engels explica:
“Dessa forma, pois, as riquezas, à medida que iam aumentando, davam, por um lado, ao homem uma posição mais importante que a da mulher na família e, por outro lado, faziam com que nascesse dele a ideia de valer-se dessa vantagem para modificar, em proveito de seus filhos, a ordem da herança estabelecida. Mas isso não se poderia fazer enquanto permanecesse vigente a filiação segundo o direito materno. Esse direito teria que ser abolido, e o foi.”
Assim, em nome de sua riqueza, em nome de passa-la apenas para seus filhos legítimos, na forma de herança, a mulher é destituída do seu lugar central daquelas organizações sociais. De matriarcado passasse para o patriarcado. Os efeitos disso, são sentidos até hoje:
“O desmoronamento do direito materno foi a grande derrota do sexo feminino em todo o mundo. O homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de procriação.”
Portanto, com o patriarcalismo surge a família monogâmica, como única forma do homem garantir que seu filho é realmente seu. Tranca-se as mulheres dentro de casa, estas devem adquirir um novo comportamento de submissão total ao homem, deixando de lado seus sentimentos e vontades. Algo impensável até a formação desta sociedade patriarcal.
” Ao homem, igualmente, se concede o direito à infidelidade conjugal, sancionado ao menos pelo costume (o Código de Napoleão outorga-o expressamente, desde que ele não traga a concubina ao domicílio conjugal), e esse direito se exerce cada vez mais amplamente, à medida que se processa a evolução da sociedade. Quando a mulher, por acaso, recorda as antigas práticas sexuais e intenta renová-las, é castigada mais rigorosamente do que em qualquer outra época.”
Por tudo isso, a importância das mulheres serem independentes, fazerem parte da produção social e receberem remuneração digna. Não, as mulheres não são inferiores, mas foram inferiorizadas devido a interesses materiais. As mulheres precisam recuperar a sua liberdade, a sua autonomia sobre seu próprio corpo e a consciência e expressão de seus desejos. Para tanto, precisamos lutar por uma transforação radical desta sociedade.
Este livro, então, permite compreender as bases objetivas para o surgimento da opressão da mulher. Não foi sempre assim, e nem sempre será!
Para quem preferir, o livro está aqui na integra: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_engels_origem_propriedade_privada_estado.pdf
Fonte: Diário da Liberdade
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