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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Trabalhadores de Fast-Food protestam nos Estados Unidos

Brasil - WSW - [Marcus Day, Tradução de Diário Liberdade] Trabalhadores de redes de Fast Food dos Estados Unidos da América protagonizam protestos pelo país.


Trabalhadores da indústria de fast food participaram de protestos, incluindo breves períodos de greve, em mais ou menos 60 cidades estadunidenses, dentre elas Los Angeles, New York, Boston, Detroit, Atlanta e Memphis. Grandes redes como McDonald's, Burger King, Wendy's, Taco Bell e KFC foram afetadas. Os trabalhadores, muitos deles à beira de um abismo econômico, exigem o aumento de seus salários para US$ 15,00 a hora.

Trabalhadores de fast food e trabalhadores da indústria alimentícia em geral, estão entre os mais explorados do país, recebendo salários baixíssimos e poucos, ou nenhum, benefícios. Ainda que em âmbito relativamente limitado, essa foi declaradamente a maior greve dos trabalhadores de fast food desde Novembro de 2012, momento que teve inicio a campanha por melhores salários na categoria.

De acordo com o Instituto de Estatísticas Laborais (Bureau of Labor Statistics), o típico trabalhador da preparação de comida ganha 9,18 dólares por hora, ou ainda 19.100 dólares por ano – assumindo que eles possam trabalhar em tempo integral. Muitos deles, no entanto, são pagos apenas pela base do salario mínimo federal de 7,25 dólares por hora. Porém, em todo caso, a quantia paga está abaixo do limite de pobreza em uma família de três pessoas. Muitos trabalhadores, na tentativa de sustentar as suas famílias, são forçados a trabalhar por 50, 60 ou até mesmo 70 horas por semana, e em diferentes trabalhos, para sobreviver.

Enquanto isso, muitos dos executivos da indústria de 200 bilhões de dólares do fast food ganham mais dinheiro em um único dia do que os seus trabalhadores ganham em um ano inteiro. David Novak, presidente executivo da YUM! Brands, uma empresa que está na lista das 500 mais ricas da revista Fortune e é dona das redes Pizza Hut e Taco Bell, recebeu 29.4 milhões de lucro em 2012 – quantia que significa um valor de 14.134 dólares por hora trabalhada, que é praticamente 2.000 vezes mais que a base de salario mínimo federal.

Shaniqua Davis, uma funcionária de 20 anos de idade, do McDonald's no bairro do Bronx e que ganha pela base do salário mínimo, disse o seguinte à Agence Frence-Presse, em um ato na quinta avenida: "Eles ganham milhões que vêm através de nossos pés. Eles podem nos pagar melhor".

Davis, que tem uma criança de um ano de idade, continuou: "é realmente muito difícil... eu tenho contas pra pagar. Eu preciso comprar fraldas. Eu mal posso comprar comida". Quando perguntada se trabalhava em tempo integral, ela respondeu: "Quarenta horas? Nunca. Eles não te deixam trabalhar por esse tanto de horas".

Davis disse que se não fosse pelas bolsas de alimentação e aluguel, "eu já estaria na rua".

De acordo com a revista Time, enquanto as margens de lucro das empresas de fast food quase dobraram desde 2009, indo de um percentual de 2,1 para 4,6%, a porcentagem de receita gasta em folhas de pagamento diminuiu, indo de 23,5% para 22,9%.

Muito embora os empregos em fast food e outros empregos em serviços da indústria venham, no largo das ultimas décadas, cada vez mais substituindo os empregos nos setores manufatureiros, tal tendência cresceu dramaticamente ao inicio da recessão entre 2007 e 2008. Quase 60% dos trabalhos gerados durante a dita recuperação econômica eram parte de posições de baixo salario na indústria de serviços; sendo a maioria deles trabalhos de meio período.

Ao mesmo tempo, a continuação de altas taxas de desemprego criou um exército de reserva formado por trabalhadores desesperados por um trabalho, fator esse que foi utilizado pelos empregadores para colocar os salários para baixo e aumentar os seus lucros. Em 2011, o McDonald's anunciou que iria criar mais ou menos 50.000 posições de trabalho, e nessa ocasião recebeu mais de 1 milhão de currículos. No final das contas, a companhia contratou aproximadamente 6 pessoas de cada 100 que se candidatou.

Grupos dentro e ao redor do Partido Democrata procuraram ao mesmo tempo se desviar e tirar vantagem da veloz crescente amargura e desespero dos trabalhadores de serviços alimentícios e varejo, que não são trabalhadores tradicionalmente sindicalizados nos Estados Unidos. Uma série de paralisações de um dia e protestos foram organizados desde novembro de 2012 por sindicatos de serviços, como o Sindicato Internacional de Trabalhadores de Serviços (SEIU – Service Employees International Union), que deu apoio financeiro e atuou como orientador, e diversas outras organizações comunitárias e grupos religiosos.

Figuras como a democrata Christine Quinn, atual porta-voz do Conselho da cidade e candidata a prefeita de Nova York, tentou colocar-se como apoiadora das reinvindicações dos trabalhadores da indústria de fast food. Quinn se juntou a um protesto em Manhattan na quinta-feira e afirmou que a indústria de fast food deve reconhecer os direitos dos trabalhadores à sindicalização.

Mas longe de melhorar a situação dos trabalhadores extremamente explorados, os políticos e sindicatos envolvidos, inclusive o SEIU e a União de Trabalhadores do Comércio e Alimentação (UFCW – United Food and Commercial Workers), esperam resolver o descontentamento desses trabalhadores pelas vias seguras dentro do Partido Democrata. Os sindicatos de trabalhadores do setor de serviços, envolvidos em organizar as ações, estão preparados para se tornarem os agentes de negociação para esses trabalhadores.

Kendall Fells, presidente do recém-criado Comitê dos Trabalhadores de fast food em Nova York, declarou ao Jornal Wall Street: "os trabalhadores de fast food necessitam de um sindicato e nós estamos aqui para ajudá-los a começar". Fells, por sua vez, arrebatou uma quantia de 111.000 dólares como coordenador local da SEIU no ano passado.

Mary Kay Henry, presidente do SEIU, escreveu em um artigo para o jornal Huffington Post na última terça feira, "nós precisamos assegurar que os trabalhadores ajam coletivamente para alçar as suas vozes na tarefa de aumentar seus salários e melhorar suas condições de vida por intermédio de negociação".

O que Quinn, Fells, Henry e outros estão realmente dizendo é que os trabalhadores de fast food devem aceitar a autoridade do sindicato e sua politica falida de "parceria para gerenciamento do trabalho", política essa que supervisionou a dizimação dos salários e benefícios em todos os outros setores dos Estados Unidos nos últimos 30 anos.

O SEIU participou voluntariamente, em conjunto com o Sindicato dos Trabalhadores da indústria de automóveis, a Federação Americana de Professores e outros sindicatos, na imposição de cortes de salários e benefícios aos seus membros. Somente para exemplificar, na Califórnia, o SEIU apoiou os ataques do governador democrata Jerry Brown sobre as aposentadorias, os programas de saúde públicos como o Medi-Cal e a educação pública.

Burocratas sindicais como Henry, que ganham salários acima de 6 dígitos e inflam as contas de despesas, representam uma camada social de classe média alta que é irrevogavelmente ligada ao Partido Democrata e ao sistema capitalista. O SEIU foi um dos apoiadores mais fervorosos do presidente Obama, doando milhões para sua campanha, mesmo que ele tenha liderado um ataque sobre os salários, os empregos e os programas sociais.

Os sindicatos são fundamentalmente hostis às necessidades e interesses sociais de seus membros. Acima de tudo, eles temem a erupção de um movimento em massa dos trabalhadores que esteja fora de seu controle e em oposição ao atual sistema politico e econômico.


Tradução de Livia de Souza Lima para o Diário Liberdade

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