O MOVIMENTO ESTUDANTIL PARA ALÉM DA INSTITUCIONALIDADE
por Paulo Winicius "Maskote"
De maneira acertada a matéria da jornalista Andréia Bahia do Jornal Opção de 24 a 30 de janeiro de 2010 demonstra a derrocada do PC do B goiano no meio estudantil, fato decorrente justamente de seu afastamento das bases, e a falta de bandeiras que aglutinassem os estudantes em torno de uma luta concreta. O seguidismo governista custou caro aos “ex-camaradas”, que domesticaram sua militância, e priorizaram a ação institucional. Porém é necessário destacar, que ao contrário do que dizem os dirigentes estudantis do PMDB, existe um movimento estudantil de luta que não está vinculado aos partidos de lógica puramente eleitoral, como é o caso de PMDB, PP, PT ,PSDB e Cia.
Em Goiás as maiores mobilizações estudantis dos últimos tempos ocorreram em 2009, contra o aumento da tarifa do transporte (ganhando a capa de vários jornais), com paralisação do Eixo Anhanguera, fechamento de vários ônibus dentro do Campus 2 da UFG,tendo a frente grêmios estudantis, o DCE-UFG , estudantes independentes, e outros que militam no PCB (Partido Comunista Brasileiro), PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário). O Fórum em Defesa da UEG constituído majoritariamente por estudantes independentes também tem feito diversas mobilizações, incluindo uma caminhada de Anápolis a Goiânia, em protesto por concurso público e por mais verbas para a UEG.
É de se reconhecer o crescimento da direita no movimento estudantil goiano, que ocorre graças à prática do PC do B , que sempre fez questão de compor com essas forças nos congressos das entidades, por exemplo, foi na chapa com o PC do B, que o PP assumiu a vice-presidência da UEE em seu 31º Congresso e posteriormente a presidência. Abandonando a perspectiva de enfrentamento de projetos e de classes, eles viraram as costas para a militância de esquerda e achavam estar se aproveitando das organizações de direita. O resultado está ai.
Para além de uma observação do movimento estudantil como uma divisão de CAs, DCEs e UEE entre partidos políticos, é preciso pensar de que maneira o movimento estudantil se relaciona com a sociedade através de visões e projetos políticos diferenciados. De um lado temos organizações de direita e outras que já foram de esquerda, que vêem o movimento social como acessória às suas movimentações institucionais, e de outro lado organizações que tem o foco no movimento social como caminho para as transformações necessárias da sociedade ( distribuição de riqueza, reforma agrária, fim de desigualdades...).
Ao contrário do que diz o ex-presidente da UNE e dirigente do PC do B, Aldo Arantes, o movimento estudantil da década de 60 não tinha maior visibilidade porque “não haviam sindicatos, movimento camponês e outras organizações...” , e sim porque tinha uma postura de luta, organizava os CPCs — Centros Populares de Cultura, tinha relação com as bases, lotava as ruas em defesa de reformas de base, reforma agrária, por um projeto popular de cultura e pelo socialismo. Como Aldo Arantes pode desconsiderar a força do Movimento Sindical da época através do CGT — Comando Geral dos Trabalhadores que deflagrava greves gerais pelas reformas de base no Brasil todo, desconsiderar as ligas camponesas no nordeste com Francisco Julião, as ocupações de Trombas e Formoso em Goiás lideradas pelo líder camponês do PCB José Porfírio. A escola Superior de Guerra em seus documentos falava claramente da necessidade de uma intervenção militar, devido ao crescente movimento organizado por reforma agrária. Se como diz o ex-presidente da UNE, não houvesse movimento sindical e camponês forte, porque teria ocorrido o Golpe Militar? Por causa única e exclusivamente da UNE?
Se hoje a UNE e a UBES, dirigidas pelo PC do B, não tem tamanha relevância na sociedade, muito se deve à domesticação a qual vem passando essas entidades, que são representantes do Governo Lula junto ao movimento social. A suposta apatia da juventude é uma falácia, no ano passado ocorreram greves estudantis na USP, anteriormente ocorreram mobilizações na UNB contra o escândalo das Fundações, em 2007 houveram mais greves e ocupações na USP contra as medidas privatizantes do Governo Serra, e recentemente ocupações de Reitorias em todo país, contra o projeto de expansão das Universidades Federais que não previa os recursos necessários por parte do Governo Federal. Em nenhuma dessas mobilizações a UNE foi protagonista, tais ações surgiram do movimento de base, principalmente das Universidades Públicas.
A matéria “PMDB aposenta comunistas” da jornalista Andréia Bahia, poderia na verdade ter o título “PMDB aposenta pseudo-comunistas”. Afinal já faz algum tempo que o PC do B (Partido Comunista do Brasil) deixou de se identificar com o que é o ideal comunista : A superação do capitalismo e o combate à burguesia. É de notório conhecimento no meio político e para a população em geral que esse partido já se acomodou junto a todas as frações possíveis de representação da burguesia. Passando da composição com DEM, PP, PR, PTB e PSDB no Governo Marconi Perillo (onde Aldo Arantes foi secretário de Meio Ambiente) à junção com o grupo adversário: o de Íris Rezende (o mesmo que chamavam de coronel poucos anos antes).
Dentro desse “vale-tudo” onde entidades de movimento social viram credenciais por mais espaço em governos, o PC do B chega ao fundo do poço, e faz-se necessário a correção do que foi dito pelos “ex-camaradas”, ao proclamar a reorganização da UGES-União Goiana de Estudantes Secundaristas. Como último presidente da UGES, eleito em 1999 e com gestão encerrada em 2001, posso afirmar que não dei posse a ninguém em algum congresso de reconstrução. O que foi feito pelo PC do B foi uma entidade cartorial, que não tem o reconhecimento de nenhuma força política. Quem convocou este congresso, se não temos organizações secundaristas municipais em Goiânia, Aparecida, Rio Verde, etc? Nós da União da Juventude Comunista, do PCB — Partido Comunista Brasileiro , hoje atuando em vários Centros Acadêmicos, grêmios estudantis e no DCE-UFG, não reconhecemos as práticas oportunistas do PC do B nem tão pouco a atual diretoria da UEE/GO. O movimento estudantil deve ser reorganizado em Goiás, com força nas bases dos CAs e DCEs, repudiando os acordões com a direita, o esvaziamento dos debates e o aparelhamento de nossas entidades estudantis. Para tanto a UJC não irá comungar com a direita (e seus assessores PT e PDT) que assumiram a UEE/GO e nem tão pouco com a ação da UJS/PC do B que questionaram somente a plenária final do 32 º Congresso da UEE (motivados pela traição de seu ex-aliado o PMDB).
Sendo assim, conclamamos todos os estudantes e entidades de base para a construção de um instrumento que unifique a luta dos estudantes pela base a partir de pautas concretas: uma Frente Estadual de Luta dos Estudantes (que não assume o caráter de uma entidade paralela), que tem de assumir a responsabilidade do enfrentamento político e de estar presente no cotidiano estudantil, ao invés do que vem sendo feito e irá continuar nos próximos dois anos de gestão na UEE/GO. Estabelecer uma luta contínua por mais verbas para pesquisa, construir um plano estadual de assistência estudantil, um calendário de lutas em defesa da UEG e no enfrentamento aos abusos das Universidades Privadas, fugindo à adesão governista das forças que compõe a UEE/GO e da direção majoritária da UNE.
PAULO WINÍCIUS TEIXEIRA DE PAULA é bacharel e estudante de Licenciatura em História pela UFG, coordenador-geral do DCE-UFG (2007-2009) e ex-presidente da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (1999-2001). E-mail: paulowinicius@gmail.com
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