*José Roberto
Acerca do texto “A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba“
(Publicação da LIT-QI - Nova época, número 157 – Março de 2010)
Acerca do texto “A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba“
(Publicação da LIT-QI - Nova época, número 157 – Março de 2010)
A queda da URSS e do leste europeu produziu no campo da esquerda uma verdadeira confusão e, momentaneamente , um recuo no campo revolucionário. O ataque da burguesia sobre a classe trabalhadora, durante os anos 90, foi terrível e somente pode ser estremecido com as rebeliões populares da América Latina, no início do século XXI, as quais produziram as condições para um ressurgimento dos debates acerca da necessidade de construção de um projeto revolucionário de superação do capital e da conquista do poder no rumo do socialismo.
Nesse momento, são várias as evidências, não de ressurgimento do Marxismo, pois este não morrera, mas de resgate e do aprofundamento das teses de Marx por parte das esquerdas e da diária confirmação dos postulados expostos, notadamente no Capital, pelo pensador alemão, a quem todos reivindicamos, reavivando as lutas da classe trabalhadora e possibilitando o fortalecimento de um pólo revolucionário.
E, incrivelmente, é justamente no campo da aplicação do postulado fundamental de Marx, o da luta de classes, que corrente importante da esquerda, reedita posições sectárias, ultra esquerdistas e vinculadas a um mecanicismo argentinizado, que os aproxima, objetivamente, de uma política imperialista, somando-se às vozes do capital.
Nascida em 1959 a Revolução Cubana se sustentou em todos os seus 51 anos de vida, como a referência maior, para os povos de todo o mundo, da experiência vitoriosa de um povo submetido à mais atroz política genocida imperialista – o bloqueio comercial norte americano- já infringida, no chamado tempos de Paz, a uma nação independente e construtora de um poder socialista.
Mesmo com as transformações fundamentais ocorridas no campo da correlação de forças da geopolítica mundial a partir de 1989, o povo cubano resistiu e é hoje, necessariamente, um exemplo maior de referência para os nossos debates e formulação de programas para a construção de um poder popular, baseado na mais incessante luta anti-imperialista e anticapitalista tocada pela, mais que necessária, unidade das forças de vanguarda da classe trabalhadora, consumando um bloco revolucionário do proletariado.
Porém, contra tudo e contra todos, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional), corrente internacional do PSTU (repetindo panfletos já publicados nas revistas e jornais do mesmo – Marxismo Vivo e Opinião Socialista), repete, em matéria publicada em seu sitio, a surrada formula dos discursos da burguesia de que em Cuba existe “...um regime ditatorial e anti-democrático...”, baseado na premissa, muitas vezes usadas por setores da direita (através de seus quadros pequeno burgueses de “centro esquerda”), de que “Cuba não é mais um Estado operário...”, mas que se transformou num “...Estado capitalista governado por uma ditadura...”.
No campo marxista, a leitura concreta dos fatos concretos, muitas vezes é feita de forma enviezada e “permite” uma miopia temporária, em que, por mais que justifiquemos posições brandindo discursos radicais apaixonados, somente o debate franco e honesto entre os atores deste campo ou, cabalmente, a própria realidade, podem demonstrar o quão erradas eram aquelas posições. Porém, isto só é possível, também, se todos os atores permanecem firmes na resolução de que, sob o capitalismo, tão somente a classe trabalhadora é revolucionária e construtora de sua liberação, derrotando as forças burguesas, e não se associando a elas.
O problema está em que os camaradas da LIT/PSTU, propõem o debate, na discussão do campo da VERDADE. Dizem eles:”... o reconhecimento da restauração e a realidade cubana atual resultam dolorosos para quem viu na revolução cubana uma grande esperança. Mas isso não pode nunca justificar a negação da realidade e, menos ainda, uma política totalmente equivocada baseada nessa negação.”.
Ora, todos sabemos que a VERDADE se dá a partir de uma leitura de classe e que, quando feita pelas lentes da classe trabalhadora, além de buscar conhecer as contradições existentes e explicitá-las, traçar os rumos de uma prática que supere estas contradições e crie os caminhos necessários para que os trabalhadores vençam a classe que os criou. Ou seja, a resposta prática é que demonstração de sob qual lente se está fazendo a afirmação da realidade.
As lentes da LIT/PSTU permitem-lhes afirmar que a restauração capitalista em Cuba está completa, mas, os impede de declarar Cuba um Estado Burguês, visto que os meios de produção foram todos expropriados pela revolução à burguesia cubana, hoje morando em Miami. Para substituir esta lacuna, tais lentes enxergam um regime ditatorial e anti-democrático que, assim como em qualquer país capitalista, se garante pela violência e pela ausência de liberdades democráticas.
Mais que isso, enxergam nas contradições existentes hoje em Cuba, evidenciadas no “desemprego, a prostituição, a marginalidade, as drogas e a delinqüência (dados que são reconhecidos, inclusive, pela própria direção cubana)”, próprios de um Estado burguês, o resultado de uma restauração capitalista, no entanto, feita sem a presença de uma burguesia. O que se afirma, simplesmente, é que aos moldes da China, Cuba se associou ao imperialismo europeu e canadense, numa leitura linear e mecânica da política econômica desenvolvida atualmente na ilha.
A partir disso, resolve indicar à classe trabalhadora cubana os caminhos do resgate da revolução de 59, propondo, “luta frontal contra a ditadura e pela defesa das mais amplas liberdades democráticas (sindicais, civis e políticas)... que facilitem a organização dos trabalhadores e a luta para a revolução socialista (no caso cubano, devamos dizer “refazer”). Por isso reivindicamos amplas liberdades democráticas, inclusive para os opositores burgueses e pequeno-burgueses...”.
Em termos práticos, o trabalhador cubano deve abandonar os postos de resistência pelas conquistas revolucionárias, chamar de volta a burguesia e derrubar o governo, restaurando todos os direitos burgueses de controle da classe trabalhadora, abrindo as portas para o retorno do capital como classe dominante. Ou seja, pela prática, a lente dos camaradas está embaçada por luzes, no mínimo, pequeno burguesas.
Quando da realização de nosso XIV Congresso, resolvemos não discutir as teses sobre o Socialismo para que pudéssemos apresentá-la ao conjunto das vanguardas dos trabalhadores e receber as criticas e contribuições que a tornassem um documento mais real e próximo da realidade. Esta decisão pressupôs exatamente a necessidade de fugirmos ao sectarismo, à auto-proclamação e da condição de donos da verdade.
O exercício de retórica dos camaradas da LIT-QI só nos permite afirmar que, nesta canção o bêbado e a equilibrista são a mesma pessoa tentando atravessar o picadeiro, pelo alto, mas sem corda e, muito menos, rede de segurança. O perigo está em que esta proposta é divulgada a toda a classe trabalhadora de nosso país, levando-a, objetivamente, a se confundir com o discurso do capital de “democracia como valor universal” e a não diferenciá-la de uma democracia socialista em que os trabalhadores são os protagonistas e classe dominante.
VIVA A REVOLUÇÃO CUBANA
VIVA A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
VIVA O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO
* José Roberto – membro do Comitê Central do PCB e do Regional de São Paulo
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