"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros." (Che Guevara)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

1º de Maio CLASSISTA!

1° de maio- Dia Mundial do Trabalhador

Em 1886, em Chicago, milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos, exigindo a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Manifestações, passeatas, piquetes e discursos, movimentaram o principal centro industrial dos Estados Unidos. A repressão ao movimento foi dura, o confronto entre policias e operários ficou marcado na história e os mártires de Chicago servem como exemplo até hoje na luta pelos direitos trabalhistas.

Instituído em 1889, como Dia Mundial do Trabalhador, o 1° de Maio é utilizado internacionalmente pelos trabalhadores e trabalhadoras para intensificar as lutas pela implementação dos seus direitos, numa perspectiva de libertação. Mesmo chegado o século XXI e após 124 anos do movimento em Chicago, o modelo de exploração pelo trabalho não mudou muito.

Somos vistos como “mão-de-obra”, “geradores de lucros”, “máquinas”. Nossas crianças ainda trabalham, mulheres e homens camponeses morrem nos canaviais e lavouras, jovens são submetidos cada vez mais cedo a precárias formas de trabalho. Os patrões avançam contra os direitos e os salários como forma de superar sua crise, para diminuir o preço da força de trabalho e retomarem seus lucros.

Nesse contexto, os trabalhadores e trabalhadoras continuam em luta pela transformação da realidade do trabalho, bem como pelas transformações revolucionárias da nossa sociedade. Neste 1° de Maio, não comemoraremos em festa, continuaremos na defesa de nossos direitos, a respeito daqueles que tombaram na luta. Não conseguimos acabar com a exploração, mas avançamos na garantia de algumas reivindicações, pela coragem daqueles que se mantiveram e se mantêm firmes e não cederam, não cedem, nem cederão às migalhas que até hoje nos são oferecidas:

*NENHUM DIREITO A MENOS, PARA AVANÇAR NAS CONQUISTAS
*REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO SEM REDUÇÃO SALARIAL
*AUMENTO REAL NOS SALÁRIOS E MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO
*PELO FIM DO FATOR PREVIDENCIÁRIO. E POR AUMENTO REAL NAS APOSENTADORIAS
*REFORMA AGRÁRIA E URBANA SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES
*SAÚDE, EDUCAÇÃO, PREVIDÊNCIA, SANEAMENTO PUBLICO E DE QUALIDADE
*ROMPER AS CERCAS DAS NAÇÕES E CONSTRUIR A LUTA INTERNACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA: EM DEFESA DAS CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO CUBANA, SOLIDARIEDADE ATIVA AOS TRABALHADORES NO HAITI, PALESTINA E A TODOS AQUELES QUE LUTAM POR SUA AUTODETERMINAÇÃO E CONTRA O CAPITAL. DAS AÇÕES COTIDIANAS, A LUTA POR UMA SOCIEDADE SEM EXPLORADOS E EXPLORADORES, UMA SOCIEDADE SOCIALISTA.

UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA

UJC/PE

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Globo e a ditadura, segundo Walter Clark


A Globo e a ditadura, segundo Walter Clark

O livro “O Campeão de Audiência”[/i] é uma contribuição importante para a compreensão das relações muito especiais entre a TV Globo e o regime militar à sombra do qual floresceu. Além disso, mostra como o jogo de cumplicidade com o regime confundia-se com a luta interna pelo poder dentro da Globo, arbitrada por Roberto Marinho e envolvendo não apenas Clark e Boni, mas também o segundo escalão - Joe Wallach, Arce (José Ulisses Alvarez Arce) e, em especial, o diretor de jornalismo Armando Nogueira.

O artigo é de Argemiro Ferreira.


Ainda que não tivesse sido esse o objetivo de sua autobiografia, na qual relatou há 19 anos a incrível trajetória que o transformara no todo-poderoso senhor, por mais de uma década, da quarta rede comercial de televisão do mundo, Walter Clark acabou por oferecer no livro - “O Campeão de Audiência”, tendo o jornalista Gabriel Priolli como co-autor, Editora Best Seller, 1991 - uma contribuição importante para a compreensão das relações muito especiais entre a TV Globo e o regime militar à sombra do qual floresceu. Além de rejeitar a conhecida imagem da emissora como uma espécie de porta-voz do “Brasil Grande” do ditador Médici, ele garantia nunca ter visto Roberto Marinho "se humilhar diante de quem quer que fosse, milico ou não, presidente da República ou não. Ao contrário, é uma altivez que fica sempre no limite da arrogância."


Clark referia-se à suposta independência do dono da Globo por "manter em torno de si homens de esquerda em cargos importantes" (citava Franklin de Oliveira, Evandro Carlos de Andrade e Henrique Caban) - inclusive depois que o SNI ampliou a pressão contra os dois últimos, com acusações contidas numa fita de vídeo que o dono da Globo fora convocado a assistir em companhia de Clark e Armando Nogueira. Explicitamente, admitia apenas que o regime "incomodava" a Globo, que enfrentou "o mesmo gosto amargo da censura, das intimidações, das impossibilidades que todo mundo sentiu: imprensa, rádio, televisão, as artes, a universidade, a cultura". Claramente na defensiva, o autor mostrava-se ressentido com os que o culpavam - na própria Globo, e mais até do que Marinho - pela submissão ao regime militar. Mas ao passar das opiniões subjetivas aos fatos concretos, acabava por confirmar o que pretendia desmentir: a docilidade das emissoras de televisão, em parte resultante do caráter precário das concessões de canais pelo governo, tinha uma longa história e já o atropelara antes, na TV Rio.


Essa emissora, na qual também foi autoridade máxima (com o título nominal de "diretor comercial"), Clark submeteu-se, sem reação, ao assalto dos lacerdistas - liderados pelo empresário Abrahão Medina, fazendo valer a condição de patrocinador de programas - no episódio da tomada do Forte de Copacabana, em 1964. Posteriormente, conseguiu o prodígio de entregar-se tanto ao governo estadual como ao federal, até mesmo depois do desafio do governador Carlos Lacerda ao presidente Castello Branco. Clark confessou ter retirado do ar programas de Carlos Heitor Cony e Roberto Campos para satisfazer o coronel Gustavo Borges, chefe de Polícia do Rio, que o chantageava com a ameaça de mudar o horário da novela “O Direito de Nascer”, líder de audiência.


Não por acaso, a experiência da Globo acabaria por extremar a tendência à acomodação, a ponto de Clark contratar um ex-diretor da Censura ("o Otati") para "ler tudo que ia para o ar" e, pior ainda, uma "assessoria especial" para cortejar o poder, formada pelo general Paiva Chaves, pelo civil linha dura Edgardo Manoel Erickson ("pelego dos milicos", conforme disse) e mais "uns cinco ou seis funcionários". O episódio que aparentemente o convenceu a ir tão longe chegava a ser cômico: um certo coronel Lourenço, do Dentel, tinha tirado a estação do ar em 1969, convocando Clark ao ministério da Guerra, porque Ibrahim Sued, na esperança de agradar ao Planalto, divulgara uma intriga plantada pelo grupo do general Jaime Portela, então na conspiração do "governo paralelo" juntamente com d. Yolanda Costa e Silva. Ibrahim foi preso e Clark aprendeu a lição depois de levar pito de um certo coronel Athos, "homem de Sílvio Frota".


Além da suposta altivez de Marinho, impressionaram Clark a "integridade", a "honestidade" e o "patriotismo" do general Garrastazu Médici, que depois de 1974 passara a frequentar seu gabinete na Globo para ver futebol aos domingos. Muita gente apanhava e morria nos cárceres da ditadura, mas para ele isso não podia, de forma alguma, ser coisa de Médici: "Tenho a impressão de que ele não se envolveu com nenhum excesso, nenhuma violência do regime". De quem era, então, a responsabilidade? "Foi coisa dos caras da Segunda Seção do Exército, do SNI, do Cenimar, do Cisa, a turma da segurança. E era tudo na faixa de major, tenente-coronel". Pronto a absolver os poderosos, frequentadores de seu gabinete (até mesmo o general Ednardo D'Ávila‚ chamado no livro de "figura agradável"), e a condenar apenas o guarda da esquina, obscuro, Clark comete o disparate de afirmar que "a censura e as pressões não eram feitas pelos generais", mas por "gente como o Augusto", beque do Vasco que virou agente do DOPS. Mas se era assim, por que submeter-se a eles?


O autor recorreu ainda a outra desculpa para justificar o adesismo e o ufanismo tão escancarados na ocasião pela rede dos Marinho: "A Globo não fazia diferente dos outros". E mais: "Se o Estadão não conseguia enfrentar o regime, se a “Veja” não conseguia, como é que a Globo, sendo uma concessão do Estado, conseguiria resistir à censura, às pressões?" O problema, para os críticos de Clark dentro da própria emissora, é que ela, como ele, parecia preferir aquela filosofia de que se o estupro é inevitável a solução é relaxar e aproveitar. Daí os comerciais da AERP (Clark alega que foram feitos para evitar uma "Voz do Brasil" na televisão, projeto de um certo coronel Aguiar), as coberturas patrióticas de eventos militares (Olimpíadas do Exército e o resto), as baboseiras ufanistas de Amaral Neto. "Era o preço que pagávamos para fazer outras coisas", alegou. Não se deu ao trabalhar de explicar que coisas eram essas. E ele mesmo admitiu na autobiografia que o apregoado Padrão Globo de Qualidade "acabou passando por vitrine de um regime com o qual os profissionais da TV Globo jamais concordaram"?


A Globo devia ao regime, como ficou claro no relato de Clark, até mesmo a introdução da TV a cores - imposta pelo ministro das Comunicações, coronel Higino Corsetti, sabe Deus para atender a que lobby multinacional. Mas a intimidade promíscua com o regime foi mais longe, a ponto de compartilhar com o SNI os serviços clandestinos do "despachante" encarregado de liberar contrabandos na Alfândega: para a empresa, equipamentos de TV; para os militares da espionagem oficial, sofisticados aparelhos de escuta ilegal. Graças a isso, Clark podia desfrutar estranhas sessões de lazer como a conversa com um tal general Antônio Marques, pressuroso em exibir foto tirada no escuro de um cinema (com equipamento infravermelho) e identificar o personagem em cena comprometedora como Dom Ivo Lorsheiter, progressista odiado pela linha dura militar.


O autor defendeu no livro tudo o que fez para "afagar o regime" (expressão dele) e investiu contra os que o acusavam de "puxar o saco dos militares" (também expressão dele). Para fazer autocensura, revelou, tinha importantes aliados internos, com destaque especial para o papel do diretor de jornalismo, Armando Nogueira. Por "questão de realismo", por exemplo, Armando e ele tomavam "muito cuidado" para não trombar "com o regime e nem com Roberto Marinho". Mas o leitor tropeça nas contradições da narrativa, entre elas a ambiguidade em relação ao ex-amigo J. B. (Boni) de Oliveira Sobrinho - acusado de fazer vista grossa quando Dias Gomes e outros enfiavam "coisas nos textos que certamente iam dar problemas", mas também de cumplicidade com os militares para destruir o próprio Clark ("lá por 1976, Laís, a mulher do Boni, foi me denunciar para o pessoal do SNI, que ela conhecia, dizendo que eu era um toxicômano perigoso").


Não é preciso inteligência privilegiada para perceber que o jogo de cumplicidade com o regime confundia-se com a luta interna pelo poder dentro da Globo, arbitrada por Marinho e envolvendo não apenas Clark e Boni, mas também o segundo escalão - Joe Wallach, Arce (José Ulisses Alvarez Arce) e, em especial, o diretor de jornalismo Armando Nogueira, pintado no livro como incompetente, preguiçoso e traiçoeiro. Em meio à guerra, as reuniões do conselho de direção nas manhãs de segunda-feira tornaram-se um inferno, em generalizado clima de intriga e discórdia, com todo mundo brigando com todo mundo. O dinheiro farto que todos ganhavam, contou Clark, "era como veneno, especialmente nas mãos das mulheres". Munidas de talões de cheque, elas estrelavam "um festival de nouveau-richismo, pretensão e falta de educação". Acusado de consumir drogas, Clark defendeu-se generalizando a prática: "a cocaína era chique nas festas intelecto-sociais, e o seu consumo, bastante disseminado", mas "resolveram me transformar em drogado".


Quando Marinho decidiu tomar "o brinquedo de volta" - ou seja, recuperar a Globo, que "tinha emprestado para uns garotos mais moços brincarem" - uma das mãos firmemente agarradas ao tapete de Clark, segundo o livro, foi a do ministro da Justiça, Armando Falcão, "tipo deletério, que adorava fazer intrigas, dizer que éramos todos comunistas, drogados, os piores elementos". No relato aparece um Roberto Marinho bem mais coerente na aliança com o regime do que o autor chega a reconhecer explicitamente - tanto que o episódio no qual Clark é afinal defenestrado mistura, de forma reveladora, a disputa pelo poder no regime militar com aquela que se processava na Globo, escancarando as relações perigosas entre o governo e a rede de televisão consolidada à sombra do autoritarismo.


O autor nega que o motivo de sua saída tenha sido, ao contrário do que se propalou na época, seu comportamento pouco ortodoxo - em razão de excessos alcoólicos - numa festinha com poderosos de Brasília. O livro atribuiu a demissão a queda de braço com o regime, que exigia a expulsão pela Rede Globo da afiliada paranaense de Paulo Pimentel, político que rompera com o antigo protetor, ministro Ney Braga, e ainda era desafeto do chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, já a caminho da presidência. Se assim foi, faltou a Clark reconhecer ter sido demitido na primeira vez em que ousou contrariar o regime. "Eu argumentava - escreveu ele - que o governo tinha o poder concedente dos canais de rádio e TV e, se quisesse atingir o Paulo (Pimentel), que cassasse a sua concessão e enfrentasse o desgaste político". Mas Marinho, pragmático, pensava diferente - talvez sintonizado, naquele sombrio ano de 1977, com o clima gerado por mais uma demonstração de força do regime, o Pacote de Abril.


Clark nem sequer notou a semelhança desse episódio com tantos outros que marcaram a aliança promíscua da Globo com o poder - e nos quais ela se limitara a acatar a vontade do regime. Alguns de tais episódios, envolvendo a TV e autoridades militares, desfilaram ao longo de “Campeão de Audiência”: o ataque do general Muricy a um documentário da CBS (para ele, “subversivo”) sobre o Vietnã (ironicamente, comprado pelo americano Wallach, representante do grupo Time-Life); o Jornal Nacional, no seu terceiro dia de sua existência, proibido por um coronel (Manoel Tavares) do gabinete do general Lira Tavares (membro da Junta que tomara o poder) de noticiar o sequestro do embaixador dos EUA e a doença de Costa e Silva, os dois principais assuntos; o aviso do general Sizeno Sarmento de que as músicas “Caminhando” e “América, América” estavam proibidas de ganhar o Festival Internacional da Canção; a ordem do general Orlando Geisel para as patriotadas de Amaral Neto serem incluídas no horário nobre; a prisão do próprio Clark pelo DOPS no dia do Ato 5, por ordem do coronel Luís França e em represália por ter ele discutido com o motorista do militar num incidente de trânsito.


Enfim, a especialidade da Globo parecia ser a de acomodar-se a qualquer situação. A acomodação prevaleceu também no dia da queda de Clark. E ele aceitou sem discutir o prêmio de consolação (US$ 2 milhões) oferecido por Marinho. Limitou-se a encomendar a carta de demissão (“em alto estilo...literário”) ao amigo Otto Lara Resende, suficientemente versátil para também escrever em seguida a resposta na qual o dono da Globo agradeceu os serviços prestados pelo demissionário (cinco anos depois Otto aceitaria ainda outra missão: o prefácio de “Campeão de Audiência”).


A demissão é uma espécie de anticlímax da autobiografia, na qual o autor assumiu compulsivamente a responsabilidade pelas iniciativas bem sucedidas da Globo, declarou-se partidário de programas de qualidade (mas o salto de audiência veio com os popularescos de baixo nível, apresentados por Raul Longras, Dercy Gonçalves, Chacrinha, etc, não muito distantes da atual pornografia BBB) e atribuiu o mal feito a outros - entre eles, os que mantiveram o faturamento milionário e a liderança absoluta de audiência nos anos seguintes, enquanto o próprio Clark, que na Globo tinha o maior salário do mundo e frequentava presidentes e ministros, descia ao fundo do poço, de fracasso em fracasso (como diretor de duas TVs, logo demitido, e produtor de dois filmes nos quais não se reconheceu sua contribuição, além de um espetáculo teatral altamente deficitário)."


Em 14 anos, depois de minha saída, o que houve de realmente novo?" - perguntou o autor naquele ano de 1991, referindo-se à Globo. Pouca coisa, talvez. Hoje, com a perda crescente de audiência para os concorrentes e sem os privilégios garantidos em 20 anos de ditadura militar, ela está condenada a conformar-se com as regras da democracia e da competição. E passa a valer para a Globo a amarga reflexão pessoal de Clark no livro: “Não se deve cultivar excessivamente o poder, pendurar-se emocionalmente nele, porque um belo dia o poder acaba, e o dia seguinte é terrível".

quarta-feira, 28 de abril de 2010

MANIFESTO AO 58° CONEG DA UNE


MANIFESTO AO 58° CONEG DA UNE

A União da juventude comunista na qualidade de fundadora da união brasileira dos estudantes (UNE) apresenta para a juventude brasileira, em especial ao conjunto dos estudantes, seu manifesto sobre as discussões que envolvem o 58° CONEG da UNE realizado no Rio de Janeiro dos dias 22 a 25 de abril.

Primeiramente, repudiamos veementemente a falta de mobilização através da construção de acordos meramente cupulistas que cerceiam a organização de espaços que pertencem ao conjunto dos estudantes. Porém, não acreditamos que tais práticas políticas sejam meramente fruto de erros de condução ou “má fé” por parte da direção da UNE, tais práticas são um produto político e de opções de projetos que acreditamos estar em disputa na sociedade brasileira.

Vivemos em um consenso formado historicamente pela burguesia brasileira, através de diversas ações coercivas e truculentas combinando com ações persuasivas junto a toda sociedade, construindo uma hegemonia de tipo burguesa. Consenso, no qual, se aprofundou fortemente no governo Lula, através do seu projeto de “pacto social” e a incorporação e controle de diversos movimentos sociais afim de “amortecer” qualquer alternativa aos modelos dominantes.

Hegemonia que se sustenta na supressão do protagonismo das mobilizações e organizações populares, substituindo-se simplesmente por um conjunto de ações dentro da institucionalidade burguesa. A UNE vem seguindo este amoldamento à ordem dominante, configurado de forma mais clara através do seu apoio irrestrito ao governo Lula e suas políticas educacionais como, por exemplo, o PROUNI - projeto no qual revitaliza o setor privado na educação - além do seu atrelamento político ao governo em detrimento da mobilização dos estudantes e formulação de projetos alternativos a atual lógica de nossa sociedade. Defendemos que o movimento estudantil e suas entidades representativas sejam independentes, autônomos de governos e que recupere o seu senso crítico e formulador presente em outros tempos. Entretanto, acreditamos que tal transformação não se dará apenas em um fórum ou congresso, mas sim, através de uma intensa mobilização e reflexão nas BASES do movimento estudantil.

São nestas estruturas políticas que se situam as atuais conjunturas de disputa institucional no Brasil, materializadas para o conjunto da população brasileira através das eleições. E dentro deste consenso que citamos, se apresentam duas candidaturas( PT-PC do B-PDT-PSB-PMDB-PTB-PP x PSDB-PPS-DEM) no campo do capital, sem contradições antagônicas, com discussões políticas superficiais e puramente administrativas a serviço do capital monopolista.Por isso, defendemos que o movimento estudantil reflita e apóie campanhas que façam o contraponto a este consenso, através de alternativas e políticas concretas de superação da atual ordem, campanhas MOVIMENTO e de qualificação do debate político que tenham a perspectiva da construção de uma FRENTE ANTICAPITALISTA E ANTIIMPERIALISTA, para além das eleições e que una partidos políticos, entidades da sociedade civil, movimentos sociais e populares, em torno de um programa conjunto de intervenção e superação do capitalismo.

No plano internacional, repudiamos o recente tratado de cooperação assinado pelos governos brasileiros e norte-americanos que pode se concretizar na instalação de uma base dos EUA de inteligência no Brasil visando frear os processos de transformação na América Latina principalmente Venezuela e Bolívia, por isso achamos que é de grande importância o movimento estudantil e as forças antiimperialistas, na sua totalidade se posicionarem e participarem das mobilizações em torno da bandeira: FORA QUALQUER BASE NORTE-AMERICANA NO BRASIL!

Outra questão conjuntural de suma importância são os recursos gerados pela descoberta do pré-sal, defendemos a reestatização da Petrobrás, sob controle dos trabalhadores; monopólio estatal do petróleo; fim da ANP e dos leilões, com a retomada das áreas leiloadas às multinacionais; busca de uma matriz energética menos poluente. Qualquer proposta de geração de recursos para a educação deve ser pautada nesta base para nós comunistas.

Por fim, acreditamos que seja possível construirmos uma alternativa a atual lógica que é reproduzida no movimento estudantil, propomos a construção de um projeto estratégico de universidade que rompa com a lógica mercadológica da educação, a divisão excessiva do saber, e realmente aprofunde a participação e diálogo da produção de conhecimento com a sociedade, são estes princípios concretos que sustentam a nossa idéia de Universidade popular.

Obviamente tal projeto em sua luta, deve embarcar setores para além do movimento estudantil para a sua viabilização real em um amplo movimento, por isso conclamamos aos estudantes debaterem a formulação deste projeto que visa se contrapor radicalmente ao modelo de universidade estabelecido pelo consenso vigente em nossa sociedade, e a partir destas reflexões, mobilizações e ações concretas reconstruirmos o movimento estudantil brasileiro e suas entidades representativas, resgatando a sua criticidade e proposições para a sociedade.E não vamos esquecer que o hoje pode nascer do jamais dito pelas idéias dominantes...

“Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".”
Bertolt Brecht- Elogio a dialética
UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA
UJC

A OFENSIVA BRASILEIRA


Andrés Soliz Rada


No dia 6 de Abril do corrente ano, uma delegação de Brasília apresentou em La Paz um plano de desenvolvimento binacional, que abrange a instalação de um pólo gás-químico na fronteira, a industrialização do lítio e do potássio, a construção de aeroportos, ferrovias e auto-estradas, bem como projetos de eletrificação, exploração em áreas petrolíferas e pesquisa de plantas tropicais. Semelhante generosidade se deve ao fato que as potências emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), não tendo fronteiras comuns, estão obrigados, de maneira prioritária, a acentuar seu domínio em seu entorno geográfico.


A instalação do pólo gás-químico é mencionado desde 1972, primeiro ano da assinatura do contrato de venda de gás ao Brasil, que começou em 1999. O anzol de Lula oculta o interesse da Vale do Rio Doce, a segunda maior mineradora do mundo, transferida aos operadores privados no país vizinho, para impedir que as 100 milhões de toneladas de reservas de lítio e 2.000 milhões de toneladas de reservas de potássio do salar de Uyuni sejam exploradas por companhias norte-americanas, japonesas, russas, chinesas, coreanas ou francesas, sem a participação decisiva do Brasil.


A Vale do Rio Doce, privatizada por Fernando Henrique Cardoso, exporta US $ 150 bilhões por ano, uma quantidade 30 vezes maior que de todas as exportações bolivianas. Lula, por sua vez, consolidou a aliança Estado-Burguesia com a concessão a madeireiros, fazendeiros de soja industrial e agroindustriais brasileiros de um terço das florestas amazônicas no Brasil. Confirmou a sua capacidade em semanas recentes, ao ser elogiada por Obama e Fidel Castro, Chavez e Uribe, Irã e Israel, assim como quase toda a esquerda latino-americana depois de ter enterrado o Banco do Sul, ao transformar o Brasil em credor do FMI e anunciar a criação do Banco de investimentos do BRIC.

A delegação era chefiada por Marco Aurélio Garcia, "o Maquiavel brasileiro" (o "conselheiro do príncipe"). Quatro anos atrás, revelou-se sua influência decisiva sobre o governo do MAS para conseguir, através de um simples telefonema, que o vice-presidente Alvaro Garcia Linera impedisse uma resolução do ministro da Energia, Andrés Soliz Rada, que tentou fazer valer o decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos nas refinarias controladas pela Petrobrás, o que precipitou a sua demissão.

No entanto, Marco Aurélio não voltou satisfeito, uma vez que não obteve nenhuma resposta positiva com a velocidade que ele desejava. Aparentemente, a transição institucional que ocorre na Bolívia dificulta encontrar altos funcionários com a capacidade de decisão, enquanto Evo Morales está aprisionado entre as suas ofertas com os operários, com as quais conseguiu sua reeleição, e as demandas indígenas que exigem que ele cumpra a sua proclamada defesa do meio ambiente.

O interesse brasileiro, não só para as causas presentes, mas também para o futuro (anúncio de exploração conjunta de petróleo a longo prazo) ocasiona a susceptibilidade daqueles que se lembram dos 38 anos da "negligência" ao projeto gás-químico, que está associado com a promessa de instalação de 24 usinas termelétricas na Bolívia como parte do gás de San Pablo, agravada pela exportação fraudulenta de gás através da parceria com a Repsol, e o não pagamento pelo gás úmido, durante os primeiros oito anos de vigência do contrato boliviano-brasileiro. Na situação atual, a Bolívia parece um doente muito grave que, de acordo com Lula e Marco Aurélio, poderia sobreviver com soro gota a gota administrado pelo Brasil, desde que não se desenvolva por si mesma.

PCB e as eleições 2010...



PCB lança pré-candidato a presidência e a vice-presidência,


são os camaradas IVAN PINHEIRO e EDMILSON COSTA.




A pré-candidatura do Partido Comunista Brasileiro à Presidência da República não é para fazer barganha política com os outros partidos. É uma pré-candidatura na perspectiva da construção de uma frente anti-capitalista e anti-imperialista permanente, na luta pelo socialismo.



Essa foi a tônica do discurso de Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB, no lançamento da sua pré-candidatura a presidente. Na ocasião também foi apresentado o livro com as resoluções do XIV Congresso do Partido, realizado em outubro do ano passado.



O auditório da Associação Brasileira de Imprensa, no qual ocorreu o evento, ficou pequeno para os militantes e amigos do Partido que compareceram à cerimônia. Em seu início, os membros da direção do PCB fizeram uma exposição da posição política que norteia as resoluções do XIV Congresso. Estavam na mesa, além de Ivan Pinheiro, Mauro Iasi, Eduardo Serra, José Paulo Neto e Ricardo Costa.


O secretário-geral fez uma avaliação da eleição de 2006 na qual o PCB participou em coligação com o PSOL e o PSTU. Segundo ele, naquela campanha não houve uma verdadeira composição programática entre os partidos, mas sim uma mera coligação eleitoral, o que contraria a política dos comunistas.


Ivan ressaltou a importância da pré-candidatura própria à Presidência. Ele afirmou que a pré-candidatura não fará concessões, mas que pretende mostrar a cara do Partido e explicar à população que existe uma alternativa ao capitalismo, que é o socialismo.


Ao comentar a presença do camarada José Paulo Neto, que voltou ao PCB após 18 anos sem militância partidária, Ivan disse que “o Partido nunca saiu de dentro dele”, ao fazer referência ao afastamento de José Paulo, por conta dos problemas, desvios e divisões que marcaram o PCB nos anos 80 e início dos 90.


Destacou ainda que não existe diferença entre os dois mais fortes pré-candidatos eleitoralmente a presidente, mas sim uma disputa para definir qual será o melhor representante para administrar o capitalismo em nosso país.


Ivan Pinheiro conclamou os militantes e amigos do Partido a fazerem dessa campanha um forte instrumento de denúncia do capitalismo e da construção de um bloco revolucionário do proletariado, rumo ao socialismo.




A TRAJETÓRIA DE IVAN PINHEIRO:



Ivan Pinheiro, advogado, 64 anos, (Rio de Janeiro, 18 de março de 1946), pai de cinco filhas, é o Secretário Geral do PCB - Partido Comunista Brasileiro.



Iniciou sua atividade política ainda na adolescência, no Colégio Pedro II, onde estudou entre 1957 e 1963; foi diretor do Grêmio Estudantil. Participou ativamente do movimento secundarista.



Em 1965, ingressou na ainda Universidade do Estado da Guanabara - UEG (atual Uerj), onde estudou Direito. Nessa época, integrou-se ao Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). Durante o curso, foi diretor do Centro Acadêmico Luiz Carpenter (CALC). Dada a sua trajetória como liderança estudantil, atualmente a sede do Centro Acadêmico chama-se "Sala Ivan Pinheiro".



Após a derrota da luta armada no combate ao regime militar, Ivan passou a considerar importante a participação no movimento de massas. Após desligar-se do MR-8, fez contato com o Partido Comunista Brasileiro na clandestinidade. Ingressou no PCB em 1976 e dele jamais se afastou.


A partir de 1976, passou a atuar no seu local de trabalho: o Banco do Brasil. Com a convocação das eleições do Sindicato dos Bancários, em 1978, pelos interventores do Ministério do Trabalho, pré-candidatou-se à presidência do sindicato, por decisão do PCB. O pleito durou um ano e dez meses, em função de manobras do Ministério do Trabalho. A vitória final, através de uma votação esmagadora, consagrou Ivan Pinheiro como um dos principais líderes sindicais do país. Sob seu comando, o Sindicato dos Bancários se tornou, na prática, o principal centro de resistência à ditadura no Rio de Janeiro.


Sua trajetória como expoente do PCB teve início em 1982, quando foi realizado o VII Congresso Nacional do Partido. Neste evento, Ivan e os demais participantes foram presos, após invasão do local da reunião pela Polícia Federal. Com esta prisão, foi enquadrado no último processo com base na famigerada “Lei de Segurança Nacional”. No Congresso, que ocorreu depois, na clandestinidade, Ivan foi eleito para o Comitê Central, sendo então seu mais jovem integrante. É hoje o mais antigo membro da Comissão Política do Comitê Central, de que participa há 28 anos ininterruptos.


Em 1986, sua pré-candidatura ao governo do Estado do Rio de Janeiro (lançada por uma Conferência Regional do PCB-RJ) foi retirada pelo Comitê Central, em favor do apoio ao pré-candidato do PMDB, Moreira Franco. Ivan submeteu-se à decisão, de que discordava, e aceitou concorrer a deputado federal constituinte, em uma chapa própria do PCB. Apesar da boa votação obtida, não foi alcançado o coeficiente eleitoral.


No ano seguinte, liderou a esmagadora maioria dos sindicalistas do PCB na Conferência Sindical Nacional do Partido, impondo à sua direção a opção pela CUT, em detrimento da CGT. Desde 1981, Ivan divergia da maioria do Comitê Central, lutando contra o atrelamento do Partido ao PMDB e a conciliação de classe.


No início da década de 1990, com o colapso do socialismo na URSS e no Leste Europeu, uma grave crise emergiu no Partidão, resultando numa grande cisão, em janeiro de 1992, quando foi criado o PPS. Ivan Pinheiro assumiu, juntamente com Horácio Macedo e Zuleide Faria de Melo, a liderança do grupo que manteve-se fiel aos ideais estabelecidos na fundação do PCB, em 1922.


Em 1996, Ivan Pinheiro foi pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, tendo como lema "Uma Revolução no Rio". Apesar do fraco desempenho nas urnas, a campanha foi um marco importante para a reconstrução do PCB.


No XIII Congresso do PCB, em março de 2005, em Belo Horizonte, Ivan foi eleito Secretário Geral do Partido. Este congresso marcou a ruptura do PCB com o governo Lula e apontou um novo rumo para a estratégia partidária.


No XIV Congresso do PCB, em outubro de 2010, no Rio de Janeiro, Ivan Pinheiro foi reeleito para o Comitê Central do PCB, que o reconduziu à Secretaria Geral.




A Comissão Política Nacional do PCB decidiu lançar EDMILSON COSTA como pré-candidato a Vice-Presidente da República, na chapa encabeçada por IVAN PINHEIRO, Secretário Geral do Partido.



Edmilson Costa é doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição, além de professoruniversitário. Natural do Maranhão, Edmilson é militante do PCB desde os tempos de estudante. Foi secretário-geral da União Maranhense dos Estudantes Secundaristas, em 1968, e presidente da Casa dos Estudantes Universitários do Maranhão, em 1973. Em São Paulo, exerceu o jornalismo por mais de 10 anos e posteriormente se especializou nos estudos de Economia.


Como militante comunista, Edmilson Costa participou, tanto na clandestinidade quanto na legalidade, de todas as lutas pelas liberdades democráticas no Brasil. Nas últimas eleições municipais, foi pré-candidato a prefeito de São Paulo. Membro do Comitê Central do PCB desde o IX Congresso, foi um dos articuladores do processo de resistência à tentativa de liquidação do Partido e, durante vários períodos, foi secretário político do PCB em São Paulo.


Atualmente, Edmilson Costa é membro da Comissão Política do Comitê Central do PCB e seu Secretário de Relações Internacionais, tendo representado o Partido em vários congressos, seminários e encontrosinternacionais.


É autor de O Imperialismo (Global Editora, 1989), A Política Salarial no Brasil (Boitempo Editorial, 1997), Um Projeto para o Brasil (Tecno-Científica, 1998) e A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo (Oficina Universitária, no prelo), além de vários ensaios publicados em revistas e sites especializados no Brasil e no exterior.


Além de toda atividade política e acadêmica, Edmilson Costa é poeta e compositor. Tem três livros de poesia publicados e, de suas mais de 70 composições de MPB com diversos parceiros da cena musical paulistana, cerca de vinte delas estão gravadas por artistas de São Paulo e de outros Estados.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A marcha do MST e a Mídia em Pernambuco


A marcha do MST e o público (ainda) refém das linhas editoriais

Cátia Oliveira e Ivan Moraes


Dia de cão no Recife”, diz a manchete do Jornal do Commercio nessa manhã de terça-feira. Adiante, na matéria sobre o assunto, no caderno Cidades, o título também não alivia: “MST invade o Recife e trânsito fica caótico”.


“O caos agora virou rotina” é a chamada da capa do Diário de Pernambuco sobre mesma Marcha do MST, movimento que paralisou algumas vias do Recife ontem, por duas horas, como estratégia para tornarvisível sua pauta de protestos. Dentro do DP, a matéria é intitulada“Cidade refém de Protesto mais uma vez”. “Sem Terra fecham vias dacapital”, é destaque, capa do caderno Grande Recife, da Folha dePernambuco.


Os títulos dos jornais já dão mais que uma pista do que encontraremosno texto: o “fetiche do trânsito” se sobrepondo à reivindicações dedireitos fundamentais.


A “explicação técnica” pode até fazer sentido. De tiragem que circulaos 30 mil exemplares, os três grandes jornais pernambucanos são lidos principalmente por pessoas de classe média urbana, que locomovem-se decarro e que vêem no livre acesso às vias uma questão muito mais relevante que a morosidade no processo de reforma agrária. Esquece-se, porém, alguns jornalistas quando confundem o “interesse público” com o“interesse do público”.


As coberturas feitas pelos jornais parecem separar as pessoas em duascategorias: os que têm seus direitos ameaçados por esperarem em um engarrafamento e aqueles que infringiram os direitos dos que estão nosveículos. Uma questão que muitos poderiam achar importante, como aprópria situação da reforma agrária, passa longe do foco principal.


Os três jornais fazem opção clara por focar a paralisação do trânsitoe o atraso causado pelo protesto, ao invés de esforçar-se para explicar os motivos que levaram os manifestantes às ruas e o teor dasreivindicações como: atualização dos índices de produtividade dos latifúndios, a dotação orçamentária prevista para o Incra, para açõesde reforma agrária entre outras questões.


Sem voz


Além do Jornal do Commercio nenhum outro jornal publica qualquer depoimento de militantes da base sem terra que participaram doprotesto. Parece que falta a curiosidade de perguntar: “o que faz o senhor sair de sua casa para vir até aqui parar o trânsito?” Commilhares de pessoas nas ruas, certamente respostas interessantes viriam à tona. Mas a essa gente, como regra geral, não foi dado odireito à palavra. Não pertencem à classe que fica parada no trânsito.


E o outro lado? Há quanto tempo muitas dessas pessoas esperam por verdireitos garantidos? Os depoimentos das pessoas presas no trânsito ede agentes do estado são sempre privilegiadas em detrimento das falas de lideranças do MST ou participantes manifestantes. Também em menor número. Na Folha de Pernambuco há quatro falas se posicionando deforma contrária ao protesto, que antecedem a fala de Jaime Amorim,dirigente do MST em Pernambuco.


No Diário de Pernambuco, há três falas contrárias ao protesto – umadelas de tom legalista, que tenta deslegitimar a manifestação. A última (e isso é sintomático) frase do texto é uma declaração de Cássia Bechara (do MST), sobre o direito de protestar.


Onde estaria o equilíbrio que reza a cartilha de ouvir ambas as partesde forma igualitária? Mesmo sendo a imparcialidade um mito, é importante que a diversidade de visões sobre um mesmo acontecimento seja relatada por quem pretende fazer o bom jornalismo.


Informação e opinião


Apesar do titulo que flerta com o sensacionalismo, a reportagem do Jornal do Commercio é quem faz uma cobertura mais informativa eequilibrada, procurando trazer no primeiro parágrafo os motivos damanifestação. Contudo, não desenvolve-os e muitas vezes refere-se às ocupações como “invasões”. O JC também não “foge à regra” ao fomentara divisão entre categorias. Mesmo que tenha colhido forte depoimentode lado sem voz, o jornal também publica uma fala emblemática de umasenhora transeunte: “Eles deveriam protestar contra o governo e não contra a população”, diz a entrevistada.


Fica claro que o jornal evidenciou o fato dos observadores da manifestação se sentirem um grupo à parte, como se militantes semterra também não fizessem parte da população.


Nos três jornais, as motivações do protesto acabam tornando-se vaziase, dentro do contexto da reportagem, servem apenas para que o leitor reflita apenas sobre o “principal problema”, que é o trânsito dacidade.


Dessa forma, quem é mesmo que se torna refém de quem?


O MST e a polifonia do pensamento único

*Ana Veloso


Sim, eles podem esperar 500 anos para ter seu direito humano a umpedaço de terra para viver e plantar, mas, os/as motoristas do Recife não podem “perder” duas horas em um engarrafamento por conta do protesto mais do que justo do Movimento dos Sem-Terra. Até que ponto a sociedade pernambucana não concorda com a polifonia do pensamento único que apenas aponta uma realidade parcial acerca do MST: de que são baderneiros, invasores, destruidores e vagabundos? As capas dos jornais do dia seguinte à manifestação pela reforma agrária demonstram essa reprodução do preconceito e de uma imagem criada com base em um instante de toda a luta histórica de um movimento social. Momento que fica cristalizado no imaginário popular e que atravessa e constrói, até de forma até violenta, o campo da ordem simbólica.


Afinal, quais são os critérios de noticiabilidade da imprensa? Comcerteza, não são meramente técnicos! Por qual razão, a mídia prefereignorar as bandeiras desse protesto, descontextualizando toda aorganização desses/as trabalhadores do campo e expondo-os pinçando um instantâneo da sua trajetória? O abril é vermelho! Mas, o único ponto abordado pelas pessoas, nas ruas, foi o engarrafamento. Um protesto que “abalou” o cotidiano daquelas pessoas que vivem no universo wireles. Explico: seres que habitam em um ambiente climatizado, onde a internet é comum a todos/as e a realidade é plasmada por essas duas características da cibernética sociedade do consumo.


Os meios de comunicação, ao tratar o assunto como um produto a mais na prateleira do seu “museu de grandes novidades”, desconhecem quevivemos em uma sociedade-encruzilhada, conceito de Martín-Barbero(1987) que ajuda a entender os processos comunicacionais e sociais nos quais estamos inseridos/as: “Sobrecarregada tanto pelos processos detransnacionalização quanto pela emergência de sujeitos sociais e identidades culturais novas, a comunicação está se convertendo num espaço estratégico a partir do qual se pode pensar os bloqueios e as contradições que dinamizam essas sociedades-encruzilhada, a meio caminho entre um subdesenvolvimento acelerado e uma modernização compulsiva”.


Mas, os “novos sujeitos” para conviver nessa “fauna” precisam ter uma“identidade discreta”. O universo das realidades parciais funciona mais ou menos assim: você pode até ser do MST, desde que não ouse reclamar publicamente. Finja que não é trabalhador explorado, expropriado dos seus direitos. Se o fizer, que seja no seu “gueto”. A mesma máxima vale para os gays e lésbicas. Nada pode abalar o consensofabricado em torno de uma realidade também construída. Nada que traga a “paixão pelo real” à tona, como diz Slavoj Žižek.


Ainda assim, fica difícil compreender por qual razão, na vida desses motoristas, pedestres e passageiros do Recife, que emergem como representantes dessa sociedade multifacetada, eclética, wireles ecimatizada, não cabe pensar sobre a importância política, social, material e simbólica que envolve o ato do MST!


*Jornalista, colaboradora do Centro das Mulheres do Cabo, doutoranda emComunicação pela Universidade Federal de Pernambuco e empreendedorasocial Ashoka

MST: Balanço da Jornada de Lutas 2010

Nós da União da Juventude Comunista (UJC) defendemos e nos articulamos com os movimentos da classe trabalhadora que lutam por seus direitos, nesse caso, estamos divulgando uma publicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): MST Informa Ano VIII Nº 182.
Para toda e qualquer trincheira do inimigo, fortaleceremos a trincheira do lado oposto, ou seja, para todo ataque midiático da mídia corporativa com interesses de classe burguês, apoiaremos e divulgaremos as contribuições dos movimentos dos que lutam por uma nova sociedade: socialista.
Nesse sentido, segue abaixo o informativo do MST.


BALANÇO DAS NOSSAS JORNADAS DE LUTAS

1. A história

O mês de abril se tornou um símbolo da luta pela democratização da terra no Brasil e em todo mundo. Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais, que participavam de uma marcha, foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Pará, em Eldorado dos Carajás. Era governador do Pará o sr. Almir Garbiel (PSDB). Era presidente do Brasil o sr. Fernando Henrique Cardoso. Segundo o advogado de defesa dos policiais, a empresa Vale do Rio Doce financiou a mobilização da tropa. O Massacre de Carajás foi um dos crimes mais covardes e estúpidos de toda história de nosso país.

Passaram-se tantos anos, e até hoje ninguem foi punido ou condenado.

Em 2002, o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou projeto de lei de iniciativa da senadora Marina Silva, e instituiu o 17 de Abril como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Por isso, no mês de abril, aqui no Brasil e em todo mundo acontecem mobilizações camponesas na luta por melhores condições de vida e para avançar a Reforma Agrária. Neste ano realizamos mais uma jornada de lutas, com mobilizações em todo país, ocupações de terras, protestos e marchas, para seguir pautando as necessidades históricas dos camponesas e camponesas.

Temos na pauta dois temas complementares. O primeiro é a necessidade de retomar o debate sobre a necessidade de mudanças estruturais na propriedade da terra e no modelo agrícola imposto pelo capital internacional em nosso país, o chamado agronegócio. E o segundo são as diversas demandas concretas, compromissos assumidos pelo governo, para melhorar as condições de vida dos trabalhadores de forma imediata.

A eleição do presidente Lula abriu novas perspectivas para os trabalhadores rurais e para a Reforma Agrária. Depois da posse, acompanhamos a formulação do Plano Nacional de Reforma Agrária, que foi rebaixado por pressão da bancada ruralista e pela falta de prioridade da área econômica.

Em 2005, fizemos uma grande marcha de Goiânia a Brasília, com 12 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais, que caminharam mais de 200 km, durante 17 dias. No final da marcha, fomos recebidos pelo presidente Lula e entregamos uma pauta de reivindicações, com sugestões para melhorar a polítia agrária. Naquela ocasião o governo se comprometeu, por escrito, com os seguintes pontos:

1. Priorizar o assentamento de todas as familias acampadas
2. Atualizar os índices de produtividade (ou seja, cumprir a Lei Agrária)
3. Garantir de recursos para a desapropriação de áreas
4. Criar de uma linha de crédito específica para assentados
5. Criar de uma linha especial de crédito no BNDES para agroindústrias e cooperativas nos assentamentos
6. Ampliar os recursos para os programas da educação no campo

2. A conjuntura atual
Foi passando o tempo, e muito pouco foi feito nessa direção. O resultado foi que, nesses anos, aumentou ainda mais a concentração da propriedade da terra. A opção pelo agronegócio por parte de alguns ministérios ficou mais clara.

Jornada a jornada, todos os anos, apresentamos praticamente a mesma pauta ao governo. Por isso dizemos que nossa pauta ficou amarela. Nenhuma medida estruturante foi implementada e os poucos assentamentos foram realizados mais como medida de solução de conflitos do que como projeto alternativo para a produção. Milhares de famílias continuam acampadas. E do total de famílias assentadas pelo governo, 65% foram em projetos de regularização fundiária e colonização na Amazônia.

Por outro lado, ao aproximar-se da eleição, a direita se articulou nos espaços onde tem hegemonia, como o Poder Judiciário, a bancada ruralista e setores da mídia burguesa, para atacar a Reforma Agrária, a luta social e o MST. Nos últimos meses, foi nítida a campanha promovida pelos meios de comunicação da burguesia. Os ataques no Congresso, com a constituição da CPMI da Reforma Agrária, a tentativa de impor mudanças legislativas para pior, como no caso do Código Florestal e outras iniciativas.

No Poder Judiciário, o ministro Gilmar Mendes se transformou em porta-voz do latifúndio, defendendo sempre e apenas o direito absoluto da propriedade, desconhecendo o que diz a Constituição, e abandonando o posto de magistrado para se transformar em advogado dos interesses dos fazendeiros. Ele nunca se preocupou em receber a CNBB e a CPT para explicar porque, dos 1.600 assassinatos de trabalhadores e lideranças no campo de 1985 para cá, apenas 80 têm processos judiciais, 16 foram condenados e apenas oito estão presos. Nem explicou quais medidas o Poder Judiciário está tomando em relação aos flagrantes delitos contra o meio ambiente e as situações de trabalho escravo do latifúndio.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que grilou uma terra pública de 2.500 hectares em Tocantins e expulsou os posseiros pobres, levanta-se como baluarte da tradição, da família e propriedade, sonhando em ser vice na chapa do Serra. Pelo papel que ela tem cumprido à frente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), sabemos que ela vai representar os interesses mais reacionários da burguesia brasileira caso consiga disputar as eleições. Os ataques contra os trabalhadores já começaram. Sabemos que podem piorar.

3. Nossa ação

Nos mobilizamos, primeiro, para dizer para a sociedade brasileira que precisamos de mudanças estruturais na propriedade da terra, garantindo a democratização desse bem da natureza que a Constituição garante a todos os brasileiros. Para dizer que o modelo do agronegócio é prejudicial para nossa sociedade, pois produz apenas commodities para exportação, produz em larga escala somente com venenos, transformando o Brasil no maior consumidor mundial de agrotóxicos. Denunciamos ainda que a forma de produzir do agronegócio, além de superexplorar os trabalhadores, degrada o meio ambiente, contribuindo para as mudanças climáticas que afetam a todos.

Nossa mobilização neste abril foi vitoriosa. Milhares de trabalhadores protestaram em quase todos os estados do país. Em todos os lugares a sociedade nos apoiou de diferentes formas. Sem a solidariedade de tantas entidades, sindicatos, igrejas e pessoas de boa vontade seria impossível levar adiante a luta em condiçoes tão adversas. Nos mobilizamos para exigir do governo que honre seus compromissos: que recupere o orçamento do Incra; que viabilize recursos para a desapropriação das fazendas com processos prontos; que publique a portaria que atualiza os índices de produtividade, e que discuta seriamente formas concretas de organizar a produção nos assentamentos. Que cumpra o compromisso de assentar as famílias acampadas há tantos anos.

Fizemos reuniões com diversos ministros: do Planejamento, da Secretaria da Presidência, do MDA. Esperamos que os compromissos sejam de fato assumidos e viabilizados.

De nossa parte, como movimento social, temos o dever e o direito de seguir organizando os trabalhadores do campo, para que lutemos por nossos direitos.
Estaremos atentos.

E conclamamos a todos setores organizados das forças populares a se prepararem e somarem forças na jornada de 18 de maio, para uma mobilização nacional em prol da redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salários.

Lutar por Justiça Social é nosso direito.

Acompanhe as notícias da luta por Reforma Agrária na nossa página da internet: www.mst.org.br.
Recomendamos ainda a leitura do blog da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária:
http://www.reformaagraria.blog.br/

Secretaria Nacional do MST

Chomsky: o que está em jogo na questão do Irã


Em entrevista à publicação alemã Freitag, Noam Chomsky fala da pressão dos EUA e de Israel sobre o Irã e seu significado geopolítico. "O Irã é percebido como uma ameaça porque não obedeceu às ordens dos Estados Unidos”


David Goessmann/Fabian Scheidler - Freitag


Barak Obama obteve em 2009 o Prêmio Nobel da Paz enquanto enviava mais tropas ao Afeganistão. O que ocorreu com a “mudança” prometida?


Chomsky: Sou dos poucos que não está desiludido com Obama porque não depositei expectativas nele. Eu escrevi sobre as posições de Obama e suas perspectivas de êxito antes do início de sua campanha eleitoral. Vi sua página na internet e para mim estava claro que se tratava de um democrata moderado ao estilo de Bill Clinton. Há, claro, muita retórica sobre a esperança e a mudança. Mas isso é como uma folha em branco, onde se pode escrever qualquer coisa. Aqueles que se desesperaram com os últimos golpes da era Bush buscaram esperanças. Mas não existe nenhuma base para expectativa alguma uma vez que se analise corretamente a substância do discurso de Obama.


Seu governo tratou o Irã como uma ameaça em função de seu programa de enriquecimento de urânio, enquanto países que possuem armas nucleares como Índia, Paquistão e Israel não sofrem a mesma pressão. Como avalia essa maneira de proceder?


Chomsky: O Irã é percebido como uma ameaça porque não obedeceu às ordens dos Estados Unidos. Militarmente essa ameaça é irrelevante. Esse país não se comportou agressivamente fora de suas fronteiras durante séculos. O único ato agressivo se deu nos anos 70 sob o governo do Xá, quando, com apoio dos EUA, invadiu duas ilhas árabes. Naturalmente ninguém quer que o Irã ou qualquer outro país disponha de armas nucleares. Sabe-se que esse Estado é governado hoje por um regime abominável. Mas apliquem-se os mesmos rótulos aplicados ao Irã a sócios dos EUA como Arábia Saudita ou Egito e só se poderá o Irã em matéria de direitos humanos. Israel invadiu o Líbano, com o beneplácito e a ajuda dos EUA, até cinco vezes em trinta anos. O Irã não fez nada parecido.


Apesar disso, o país é considerado como uma ameaça...


Chomsky: Porque o Irã seguiu um caminho independente e não se subordina a nenhuma ordem das autoridades internacionais. Comportou-se de modo similar ao que fez o Chile nos anos setenta. Quando este país passou a ser governado pelo socialista Salvador Allende foi desestabilizado pelos EUA para produzir “estabilidade”. Não se tratava de nenhuma contradição. Era preciso derrubar o governo de Allende – a força “desestabilizadora” – para manter a “estabilidade” e poder restaurar a autoridade dos EUA. O mesmo fenômeno ocorre agora na região do Golfo. Teerã se opõe à autoridade dos EUA.


Como avalia o objetivo da comunidade internacional ao impor graves sanções a Teerã?


Chomsky: A comunidade internacional: curiosa expressão. A maioria dos países do mundo pertence ao bloco não alinhado e apóiam energicamente o direito do Irã de enriquecer urânio para fins pacíficos. Tem repetido com freqüência e abertamente que não se consideram parte da denominada “comunidade internacional”. Obviamente pertencem a ela só aqueles países que seguem as ordens dos EUA. São os EUA e Israel que ameaçam o Irã. E essa ameaça deve ser tomada seriamente.


Por que razões?


Chomsky: Israel dispõe neste momento de centenas de armas atômicas e sistemas de lançamento. Destes últimos, os mais perigosos provem da Alemanha. Este país fornece submarinos nucleares Dolphin, que são praticamente invisíveis. Podem ser equipados com mísseis nucleares e Israel está preparado para deslocar esses submarinos para o Golfo. Graças à ditadura egípcia, os submarinos israelenses podem passar pelo Canal de Suez.


Não sei se isso foi noticiado na Alemanha, mas há aproximadamente duas semanas a Marinha dos EUA informou que construiu uma base para armas nucleares na ilha Diego Garcia, no oceano Índico. Ali seriam estacionados os submarinos equipados com mísseis nucleares, inclusive o chamado “destruidor de bunkers”. Trata-se de projéteis que podem atravessar muros de cimento de vários metros de espessura. Foram pensados exclusivamente para uma intervenção no Irã. O destacado historiador militar israelense Martin Levi van Creveld, um homem claramente conservador, escreveu em 2003, imediatamente após a invasão do Iraque, que “depois desta invasão os iranianos ficaram loucos por ainda não terem desenvolvido nenhuma arma atômica”.


Em termos práticos: há alguma outra maneira de impedir uma invasão? Por que os EUA ainda não ocuparam a Coréia do Norte? Porque ali há um instrumento de dissuasão. Repito: ninguém quer que o Irã tenha armas nucleares, mas a probabilidade de que o Irã empregue armas nucleares é mínima. Isso pode ser comprovado nas análises dos serviços secretos estadunidenses. Se Teerã quisesse equipar-se com uma só ogiva nuclear, provavelmente o país seria arrasado. Uma fatalidade deste tipo não é do gosto dos clérigos islâmicos no governo: até agora eles não mostraram nenhum impulso suicida.


O que pode fazer a União Européia para dissipar a tensão desta situação tão explosiva?
Chomsky: Poderia reduzir o perigo de guerra. A União Européia poderia exercer pressão sobre Índia, Paquistão e Israel, os mais proeminentes não assinantes do Tratado de Não Proliferação Nuclear, para que finalmente o assinem. Em outubro de 2009, quando se protestou contra o programa atômico iraniano, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) aprovou uma resolução, que Israel desafiou, para que este país assinasse o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e permitisse o acesso de inspetores internacionais aos seus sistemas nucleares. A Europa e os EUA trataram de bloquear essa resolução. Obama fez Israel saber imediatamente que não devia prestar nenhuma atenção a esta resolução.


É interessante o que acontece na Europa desde que a Guerra Fria acabou. Quem acreditou na propaganda das décadas anteriores devia esperar que a OTAN se dissolvesse em 1990. Afinal, a organização foi criada para proteger a Europa das “hordas russas”. Agora já não existem “hordas russas”, mas a organização se expande e viola todas as promessas que fez a Gorbachev, que foi suficientemente ingênuo para acreditar no que disseram o presidente Bush e o chanceler Kohl, a saber: que a OTAN não se deslocaria um centímetro na direção do leste europeu. Na avaliação dos analistas internacionais, Gorbachev acreditou em tudo o que eles disseram. Não foi muito sábio. Hoje a OTAN expandiu a grandes territórios do Leste e segue sua estratégia de controlar o sistema mundial de energia, os oleodutos, gasodutos e rotas de comércio. Hoje é uma mostra do poder de intervenção dos EUA no mundo. Por que a Europa aceita isso? Por que não se coloca de pé e olha de frente para os EUA?


Ainda que os EUA pretendam seguir sendo uma superpotência militar, a sua economia praticamente desmoronou em 2008. Faltaram bilhões de dólares para salvar Wall Street. Sem o dinheiro da China, os EUA talvez tivessem entrada em bancarrota.


Chomsky: Fala-se muito do dinheiro chinês e especula-se muito a partir deste fato sobre um deslocamento do poder no mundo. A China poderia superar os EUA? Considero essa pergunta uma expressão de extremismo ideológico. Os Estados não são os únicos atores no cenário mundial. Até certo ponto são importantes, mas não de modo absoluto. Os atores, que dominam seus respectivos Estados, são sobretudo econômicos: os bancos e as corporações. Se examinamos quem controla o mundo e determina a política, vamos nos abster de afirmar um deslocamento do poder mundial e da força de trabalho mundial. A China é o exemplo extremo. Ali se dão interações entre empresas transnacionais, instituições financeiras e o Estado na medida em que isso serve a seus interesses. Esse é o único deslocamento de poder, mas não proporciona nenhuma manchete.


Tradução para o SinPermiso: Angel Ferrero
Tradução para a Carta Maior: Katarina Peixoto
Fonte original:
http://www.freitag.de/politik/1013-iran-obama-weltordnung-sanktionen

Duas ou três campanhas eleitorais, mas apenas uma campanha política


Mauro Luis Iasi (*)


Não se formará em 2010 a aliança eleitoral reeditando a “frente de esquerda” que disputou as eleições de 2006, e é preciso que reflitamos sobre as razões deste fato. Concordo com a recente manifestação do companheiro Badaró (“A importância da frente de esquerda em 2010, um chamado aos camaradas do PCB e PSTU”) quando avalia da importância desta tentativa em 2006 e da lógica que nos remete a buscar aglutinar as forças de esquerda e de oposição ao governo Lula e ao bloco conservador em uma alternativa eleitoral.


No entanto, há entre nós um entendimento muito diferente sobre o caráter e a forma de funcionamento desta suposta frente. Exatamente por considerarmos, nós do PCB, a importância de resistir contra o bloco conservador e suas alternativas, seja uma mais retrógrada, representada por Serra, ou outra, de Dilma, que disfarça o seu compromisso com os grandes monopólios capitalistas sob um enganoso verniz “social desenvolvimentista”, seja lá o que isso significa, é que entendemos a Frente de Esquerda como um esforço permanente de articulação política e de iniciativas que permitam o contraponto necessário ao consenso conservador.


Desta maneira, para nós, a frente de esquerda não pode se limitar a uma mera coligação eleitoral. As diferentes lutas sociais, formas organizadas ou não de resistência contra a ação predatória que o grande capital empreendeu contra os trabalhadores, foi o terreno prático no qual nos encontramos nestes anos. Na luta contra a flexibilização de direitos dos trabalhadores, contra a criminalização dos movimentos sociais, na luta pela estatização de fato da Petrobrás, na solidariedade internacional (nem todos nós, é verdade), para citar apenas algumas, constitui-se o espaço de unidade na ação das forças de esquerda e dos movimentos sociais combativos.


Infelizmente, nem do ponto de vista sindical, nem do ponto de vista político-eleitoral, esta ação comum pôde se refletir em graus mais avançados de unidade. Isto se dá, em parte, por nossas legítimas diferenças e pontos de vista discordantes sobre importantes aspectos táticos, mas, é bom frisar, também pela imposição de uma prolongada hegemonia conservadora que atinge em cheio o movimento dos trabalhadores.


Especificamente sobre a frente eleitoral, avaliando o cenário de defensiva e as possibilidades conjunturais, o PCB propôs, no início de 2009, que o melhor a fazer era dar início a um processo de reflexão e discussão programática, que, partindo de uma séria avaliação sobre o Brasil, chegasse a eixos de um programa e ao esboço de um projeto de poder que reinscrevesse o bloco proletário e popular na luta política em uma perspectiva transformadora.


Para nós, este processo só poderia ser iniciado retirando-se todos os nomes colocados e priorizando-se a discussão programática, de maneira que isto poderia levar ou não a alternativas eleitorais em 2010, mas, de qualquer forma, acumularia para a construção de uma alternativa de poder à esquerda, de médio e longo prazo, com mais qualidade e substância.


O que afirmamos, no momento, é bom que se esclareça, é isso: estávamos dispostos a participar deste esforço de reflexão e elaboração coletiva de uma alternativa programática articulada a um projeto de poder que materializasse a necessidade de independência e autonomia política dos trabalhadores frente aos desafios atuais e contra a hegemonia conservadora que se implantou no Brasil. Caso este esforço coletivo chegasse ao desenvolvimento de eixos mínimos e entendimento o suficiente para refletir tal acúmulo em uma candidatura para 2010, o PCB estaria comprometido em defendê-la. Da mesma forma, afirmamos que, caso o processo de reflexão e de mobilização pela necessidade de um programa de transformações no sentido do socialismo e de estabelecimento de um poder proletário e popular no Brasil caminhasse por uma dinâmica que fosse além das eleições, isto, para nós, não seria um problema.


Em nenhum momento vinculamos esta proposta a um nome, exatamente porque estávamos propondo um método político que pressupunha retirar inicialmente qualquer alternativa de nomes e priorizar o debate programático. E muito mais que isso, assim propusemos porque avaliamos, e acredito que estávamos corretos, que a inércia dos partidos que compunham a frente de esquerda (PSOL, PCB e PSTU) em fazer uma disputa internista para chegar primeiro a um nome para depois oferecê-lo, como alternativa aos trabalhadores e aos movimentos sociais, é um profundo erro político.


Não podemos aceitar “candidaturas naturais”, “cálculos sobre viabilidade eleitoral”, hegemonismos de nenhuma espécie ou qualquer outro critério que venha ocupar o lugar da discussão política e da construção coletiva de alternativas. Avaliávamos que os trabalhadores estão, justificadamente, cansados de ser chamados só para votar em chapas que apareciam como pratos prontos numa engenharia política que divide o tempo em 90% gastos em conspirações e acertos internos e 10% numa mera estratégia de buscar apoio eleitoral, colocando os movimentos sociais, as organizações sindicais e os trabalhadores em uma posição passiva e manipulatória.


Infelizmente, a inércia venceu a criatividade política. O PSOL mergulhou num internismo ignorando qualquer coisa que vicejasse fora dele e resolveu, primeiro, tratar de seus próprios problemas. Inicialmente, numa cruzada para convencer Heloisa Helena a manter sua candidatura por conta de sua “densidade eleitoral”. Depois do insucesso de tal empreitada, procurou substituir o personagem, mas manteve a lógica do suposto potencial eleitoral apresentando a alternativa de Marina Silva, que Badaró corretamente define como alternativa suicida, e, finalmente, numa fratricida luta interna que sangrou o partido até a definição de Plínio como candidato.


Durante este tenso processo, o PSOL só pediu uma coisa à frente de esquerda: paciência. Em nenhum momento a frente existiu como frente. Ninguém da direção do PSOL, em nenhum momento, procurou saber o que seus parceiros avaliavam da situação, em nenhum momento se realizou um balanço das experiências de 2006 que pudesse orientar a formulação de uma alternativa para 2010. Não digo no sentido de adesão à proposta por nós apresentada, mas sequer de qualquer sondagem para avaliar o que pensavam os partidos que compunham a frente. Apenas pediu-se que esperássemos.


Prezamos e respeitamos a autonomia dos partidos aliados, mas principalmente prezamos nossa autonomia. Como somos inquietos e rebeldes... não esperamos, construímos alternativas.
Os pontuais, raros e generosos contatos limitaram-se a iniciativas pessoais ou de uma ou outra tendência que antes nos inteiravam do processo conflituoso do que formulavam ideias e eixos sobres os quais pudéssemos discutir.


O resultado desta disputa interna na consagração de Plínio como candidato do PSOL é uma boa notícia e nunca escondemos nossa profunda identidade não apenas com a pessoa e o militante que é o Plínio, como, em muitos aspectos, com a maneira como partilhamos a compreensão dos desafios que enfrentamos no campo da política. No entanto, o momento e a forma como hoje se apresenta a candidatura do PSOL subverte toda a forma que propusemos no início de 2009. Apesar de ser um bom nome, é ainda um nome já dado que busca apoio e não um processo de construção coletiva que culminaria com um nome que expressasse, na disputa político-eleitoral, o acúmulo construído.


O tempo que nos separa das eleições inviabiliza, mais uma vez, uma construção programática e mobilizatória em torno da construção de uma alternativa de poder para os trabalhadores. Não nos responsabilizem pela não efetivação da Frente de Esquerda. Sua inviabilização foi construída (pacientemente) pelos erros na condução da campanha de 2006, pela incapacidade de ir além de uma mera coligação eleitoral e se constituir como expressão política possível da unidade de ação prática desenvolvida, e, finalmente, pela opção de primeiro definir no âmbito do PSOL o candidato para depois buscar o apoio dos outros parceiros da Frente.


No entanto, acreditamos que o cenário definido não inviabiliza uma ação que gere acúmulos políticos em nossa tarefa de se contrapor ao bloco conservador e na busca de uma alternativa real de poder para os trabalhadores. Continuamos convictos que precisamos iniciar um debate sobre quais os caminhos de construção desta alternativa, que para nós só tem sentido se for à esquerda e socialista, e concordamos que as eleições são um bom momento para divulgar e apresentar a necessidade deste debate.


Neste sentido estamos convencidos que a melhor forma de contribuir neste esforço é com uma candidatura própria do PCB que apresente, através de uma campanha movimento, ou manifesto, de que maneira estamos entendendo o período em que vivemos e os desafios que temos de enfrentar na perspectiva de uma revolução socialista no Brasil, assim como o papel que um Governo Popular tem nesta estratégia de transformação. Um chamamento à discussão programática e estratégica que leve à formação de uma frente anticapitalista e anti-imperialista.


Temos certeza que Plínio cumprirá com dignidade a tarefa que seu partido o incumbiu, assim como aguardamos que a linha geral de sua campanha seja de questionamento da ordem e de defesa da necessidade de uma alternativa socialista. Não sabemos se no desenho de uma alternativa ainda no campo de uma proposta democrático-popular, como é o que parece se configurar, ou mais incisivamente socialista, mas de qualquer forma uma campanha de oposição e de esquerda.


Assim é que, para nós, trata-se de duas ou três campanhas eleitorais (não por que assim definimos, não era o que queríamos, mas não fomos convidados a opinar sobre alternativas que viabilizassem a Frente), mas que podem compor uma única campanha política pela necessidade de acúmulo programático e político que nos leve a uma real alternativa de poder dos trabalhadores.


Os trabalhadores chilenos, na época da Unidade Popular, cantavam uma música na qual proclamavam que “desta vez não se trata de mudar um presidente, mas será o povo que construirá um Chile bem diferente”. Acreditamos que é chegado o momento de dar um basta nesta inércia eleitoral e começar a construir reais alternativas de mudança para o Brasil. Não somos melhores que ninguém e temos a certeza de que precisaremos de todos os revolucionários para construir esta alternativa. Apenas decidimos que já era hora de começar, e assim começamos.


*Mauro Iasi
Membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do PCB
Rio de Janeiro, abril de 2010.

Carta Aberta a Pilínio de Arruda Sampaio:

Vimos parabenizá-lo, e ao PSOL, pela indicação de sua pré-candidatura à Presidência da República, que qualifica o debate político para além dos discursos eleitorais.

Como é do seu conhecimento, o PCB já anunciou publicamente que se apresentará também com candidatura própria no âmbito nacional. Fizemo-lo antes e independente da escolha do PSOL levada a efeito neste fim de semana, pelas razões que expusemos no documento “Por que o PCB vai apresentar candidatura própria nas eleições presidenciais”.

Nossa decisão não se pautou por preferências nem restrições a nomes, mas por questões de métodos e concepções. No seu caso, ressaltamos inclusive o respeito que temos por sua trajetória na luta por mudanças radicais na iníqua sociedade brasileira.

Desta forma, mesmo que não estejamos na mesma campanha eleitoral, estaremos na mesma campanha política, ombro a ombro, para potencializar as condições para um amplo debate em torno de um projeto popular, no rumo ao socialismo, que contribua para a unidade de ação das forças anticapitalistas e antiimperialistas numa frente permanente, que incorpore organizações políticas e movimentos populares antagônicos ao capital.

Propomos-lhe, e a seu Partido, que façamos das duas candidaturas um elemento de unidade, em torno de uma campanha movimento, que deixe um saldo político no sentido dos objetivos aqui apontados, independente dos resultados matematicamente eleitorais, que certamente serão induzidos pela determinação das oligarquias, através da mídia burguesa, em restringir a disputa a dois candidatos da ordem.

Rio de Janeiro, 11 de abril de 2010.

Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB

A MÃO ESQUERDA DA DIREITA!


Defender a Revolução Cubana é uma questão de princípio
(Nota Política do PCB)


Encontra-se na página eletrônica do PSTU uma nota assinada pela autodenominada LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), sob o título “A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba”.


Esta “liga” é a mesma que ajudou a burguesia venezuelana a dizer não, no referendo constitucional convocado por Chávez, em 2008, e que recomendou abstenção no referendo revogatório convocado pelo Presidente boliviano, em 2009, sob a consigna “nem Evo nem oligarquia”, fazendo o jogo dos separatistas de Santa Cruz de la Sierra, que agem sob o financiamento e as ordens da embaixada norte-americana, da USAID e da CIA.


No exato momento em que a mídia hegemônica mundial promove uma torpe e cínica campanha contra Cuba, esta “internacional” de fachada objetivamente se associa ao imperialismo para combater a Revolução Socialista Cubana, que vem de completar históricos 50 anos de avanços políticos e sociais e de resistência ao cruel bloqueio que lhe movem os Estados Unidos.


Apesar da débâcle da União Soviética e das demais experiências de construção do socialismo no Leste Europeu, apesar do bloqueio e das incontáveis provocações que lhe move o imperialismo, Cuba mantém a mais efetiva democracia popular direta do mundo e conquistas sociais inimagináveis em qualquer país capitalista. Não existe nenhum país mais solidário e internacionalista do que Cuba, que forma estudantes do mundo todo e mantém em muitos países periféricos, sobretudo na América Latina, profissionais das áreas da saúde da família e da educação, com destaque para a luta contra o analfabetismo, já erradicado na Bolívia e na Venezuela.


A LIT-QI usa contra Cuba uma linguagem de esquerda que, aos menos avisados, pode soar como revolucionária. Por isso, seus pronunciamentos são funcionais ao imperialismo, para tentar passar ao mundo a impressão de que o governo cubano está isolado, ou seja, não é só a direita que o combate.


Num malabarismo teórico desonesto, a nota afirma que em Cuba há uma “ditadura capitalista” que precisa ser derrubada em aliança com a burguesia cubana de Miami! Compara o regime cubano com as ditaduras militares que marcaram o Cone Sul nos anos 1960/1980. A má-fé e a manipulação ficam evidentes quando agora defendem como correta a política de frente democrática contra aquelas ditaduras, política que combatiam ferozmente à época.


Pode ser até compreensível a associação de grupos como este, na Polônia nos anos 80, ao “Solidarinosc” e a seu líder, Lech Walesa, mesmo sendo flagrante a direção da CIA e do Vaticano. Em função dos erros na construção do socialismo, ali havia um movimento de massas dissidente, com peso na classe operária. Mas em Cuba, a “dissidência” é dirigida por organizações burguesas, financiadas pelos Estados Unidos, inclusive as que são mencionadas no texto da autoproclamada internacional, que não tem qualquer peso político naquele país. A única alternativa ao atual sistema cubano é o imperialismo, através da burguesia de Miami.


Este tipo de orientação só se presta a fomentar em alguns países o surgimento de organizações pequeno-burguesa, messiânicas e sectárias. Como seitas, se reivindicam vocacionados para dirigir as massas e a revolução socialista. Quando não os dirigem, consideram que todos os movimentos ou processos de mudanças vivem “crise de direção”.


No momento em que o imperialismo, em função da crise de seu sistema, assume uma agressividade inaudita nas últimas décadas, não conciliaremos com essas posições pequeno-burguesas. Classificar a Revolução Cubana de “ditadura capitalista” é fazer o jogo da contra-revolução.


Por isso, o PCB terá imensas dificuldades em se relacionar com organizações políticas que venham a defender em nosso país orientações deste tipo. Mesmo que subjetivamente se percebam revolucionários, estes grupos objetivamente fazem o jogo do imperialismo, funcionando como a sua mão esquerda. O deputado Jair Bolsonaro, líder da ultradireita brasileira, também está divulgando um manifesto com a mesma linha política: “irrestrito apoio e solidariedade aos presos políticos que, em Cuba, lutam por liberdade e democracia naquele país”.


A posição que o Comitê Central do PCB aqui expõe não tem qualquer sentido antitrotskista, só porque aquela liga se reivindica, arrogantemente, a única referência mundial contemporânea do legado de Trotsky. A grande maioria das organizações e personalidades que têm a mesma referência teórica, no Brasil e no mundo, combatem veementemente as posições internacionais deste grupo, que só trazem prejuízos à luta do proletariado.


O PCB, que assume todos os seus 88 anos de vida, já superou o maniqueísmo reducionista, procurando fazer, nos dias de hoje, um balanço do socialismo com base nos fundamentos teóricos que nos legaram Marx, Engels, Lênin e outros intelectuais orgânicos e não em torno de culto a personalidades, sejam quais forem.


O PCB fica com Cuba e o socialismo!


O PCB fica contra o imperialismo!


PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central – abril de 2010

Quando o bêbado e a equilibrista são a mesma pessoa


*José Roberto
Acerca do texto “A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba“
(Publicação da LIT-QI - Nova época, número 157 – Março de 2010)


A queda da URSS e do leste europeu produziu no campo da esquerda uma verdadeira confusão e, momentaneamente , um recuo no campo revolucionário. O ataque da burguesia sobre a classe trabalhadora, durante os anos 90, foi terrível e somente pode ser estremecido com as rebeliões populares da América Latina, no início do século XXI, as quais produziram as condições para um ressurgimento dos debates acerca da necessidade de construção de um projeto revolucionário de superação do capital e da conquista do poder no rumo do socialismo.


Nesse momento, são várias as evidências, não de ressurgimento do Marxismo, pois este não morrera, mas de resgate e do aprofundamento das teses de Marx por parte das esquerdas e da diária confirmação dos postulados expostos, notadamente no Capital, pelo pensador alemão, a quem todos reivindicamos, reavivando as lutas da classe trabalhadora e possibilitando o fortalecimento de um pólo revolucionário.


E, incrivelmente, é justamente no campo da aplicação do postulado fundamental de Marx, o da luta de classes, que corrente importante da esquerda, reedita posições sectárias, ultra esquerdistas e vinculadas a um mecanicismo argentinizado, que os aproxima, objetivamente, de uma política imperialista, somando-se às vozes do capital.


Nascida em 1959 a Revolução Cubana se sustentou em todos os seus 51 anos de vida, como a referência maior, para os povos de todo o mundo, da experiência vitoriosa de um povo submetido à mais atroz política genocida imperialista – o bloqueio comercial norte americano- já infringida, no chamado tempos de Paz, a uma nação independente e construtora de um poder socialista.


Mesmo com as transformações fundamentais ocorridas no campo da correlação de forças da geopolítica mundial a partir de 1989, o povo cubano resistiu e é hoje, necessariamente, um exemplo maior de referência para os nossos debates e formulação de programas para a construção de um poder popular, baseado na mais incessante luta anti-imperialista e anticapitalista tocada pela, mais que necessária, unidade das forças de vanguarda da classe trabalhadora, consumando um bloco revolucionário do proletariado.


Porém, contra tudo e contra todos, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional), corrente internacional do PSTU (repetindo panfletos já publicados nas revistas e jornais do mesmo – Marxismo Vivo e Opinião Socialista), repete, em matéria publicada em seu sitio, a surrada formula dos discursos da burguesia de que em Cuba existe “...um regime ditatorial e anti-democrático...”, baseado na premissa, muitas vezes usadas por setores da direita (através de seus quadros pequeno burgueses de “centro esquerda”), de que “Cuba não é mais um Estado operário...”, mas que se transformou num “...Estado capitalista governado por uma ditadura...”.


No campo marxista, a leitura concreta dos fatos concretos, muitas vezes é feita de forma enviezada e “permite” uma miopia temporária, em que, por mais que justifiquemos posições brandindo discursos radicais apaixonados, somente o debate franco e honesto entre os atores deste campo ou, cabalmente, a própria realidade, podem demonstrar o quão erradas eram aquelas posições. Porém, isto só é possível, também, se todos os atores permanecem firmes na resolução de que, sob o capitalismo, tão somente a classe trabalhadora é revolucionária e construtora de sua liberação, derrotando as forças burguesas, e não se associando a elas.


O problema está em que os camaradas da LIT/PSTU, propõem o debate, na discussão do campo da VERDADE. Dizem eles:”... o reconhecimento da restauração e a realidade cubana atual resultam dolorosos para quem viu na revolução cubana uma grande esperança. Mas isso não pode nunca justificar a negação da realidade e, menos ainda, uma política totalmente equivocada baseada nessa negação.”.


Ora, todos sabemos que a VERDADE se dá a partir de uma leitura de classe e que, quando feita pelas lentes da classe trabalhadora, além de buscar conhecer as contradições existentes e explicitá-las, traçar os rumos de uma prática que supere estas contradições e crie os caminhos necessários para que os trabalhadores vençam a classe que os criou. Ou seja, a resposta prática é que demonstração de sob qual lente se está fazendo a afirmação da realidade.


As lentes da LIT/PSTU permitem-lhes afirmar que a restauração capitalista em Cuba está completa, mas, os impede de declarar Cuba um Estado Burguês, visto que os meios de produção foram todos expropriados pela revolução à burguesia cubana, hoje morando em Miami. Para substituir esta lacuna, tais lentes enxergam um regime ditatorial e anti-democrático que, assim como em qualquer país capitalista, se garante pela violência e pela ausência de liberdades democráticas.


Mais que isso, enxergam nas contradições existentes hoje em Cuba, evidenciadas no “desemprego, a prostituição, a marginalidade, as drogas e a delinqüência (dados que são reconhecidos, inclusive, pela própria direção cubana)”, próprios de um Estado burguês, o resultado de uma restauração capitalista, no entanto, feita sem a presença de uma burguesia. O que se afirma, simplesmente, é que aos moldes da China, Cuba se associou ao imperialismo europeu e canadense, numa leitura linear e mecânica da política econômica desenvolvida atualmente na ilha.


A partir disso, resolve indicar à classe trabalhadora cubana os caminhos do resgate da revolução de 59, propondo, “luta frontal contra a ditadura e pela defesa das mais amplas liberdades democráticas (sindicais, civis e políticas)... que facilitem a organização dos trabalhadores e a luta para a revolução socialista (no caso cubano, devamos dizer “refazer”). Por isso reivindicamos amplas liberdades democráticas, inclusive para os opositores burgueses e pequeno-burgueses...”.
Em termos práticos, o trabalhador cubano deve abandonar os postos de resistência pelas conquistas revolucionárias, chamar de volta a burguesia e derrubar o governo, restaurando todos os direitos burgueses de controle da classe trabalhadora, abrindo as portas para o retorno do capital como classe dominante. Ou seja, pela prática, a lente dos camaradas está embaçada por luzes, no mínimo, pequeno burguesas.


Quando da realização de nosso XIV Congresso, resolvemos não discutir as teses sobre o Socialismo para que pudéssemos apresentá-la ao conjunto das vanguardas dos trabalhadores e receber as criticas e contribuições que a tornassem um documento mais real e próximo da realidade. Esta decisão pressupôs exatamente a necessidade de fugirmos ao sectarismo, à auto-proclamação e da condição de donos da verdade.


O exercício de retórica dos camaradas da LIT-QI só nos permite afirmar que, nesta canção o bêbado e a equilibrista são a mesma pessoa tentando atravessar o picadeiro, pelo alto, mas sem corda e, muito menos, rede de segurança. O perigo está em que esta proposta é divulgada a toda a classe trabalhadora de nosso país, levando-a, objetivamente, a se confundir com o discurso do capital de “democracia como valor universal” e a não diferenciá-la de uma democracia socialista em que os trabalhadores são os protagonistas e classe dominante.


VIVA A REVOLUÇÃO CUBANA
VIVA A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
VIVA O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO


* José Roberto – membro do Comitê Central do PCB e do Regional de São Paulo