Laerte Braga
Cidadãos do Haiti (país ocupado pelos EUA com forças auxiliares dentre as quais brasileiras) preferem fazer longas filas diante dos hospitais de campanha montados pelos médicos cubanos logo após o terremoto que devastou o país, que enfrentar o risco dos médicos norte-americanos ou brasileiros.
O risco de médicos brasileiros e norte-americanos não diz respeito à competência, falo da barbárie instalada no país, seja pelo terremoto, é anterior a ele, seja pelas forças de ocupação. Não estão nem aí para a epidemia de cólera, o problema é outro, dentre eles, petróleo.
Cuba não integra o esquema decidido pela OEA – Organização dos Estados Americanos – e está lá por pura solidariedade.
Os médicos norte-americanos, todos formados em portentosas universidades, receberam ordens do comando militar dos EUA proibindo-os de recorrer aos cubanos. Se o paciente vai morrer, paciência; é um sacrifício em prol da “democracia”. Para os cubanos é uma vida que deve ser salva.
Questão de eficiência, a medicina cubana. Questão de propaganda, toda a parafernália tecnológica dos terroristas de Washington.
A cólera e doenças outras varrem o Haiti. Militares norte-americanos e seus apêndices (brasileiros, etc.) entendem que o assunto deva ser tratado a bordoada e o fazem dessa forma.
Todo esse processo “democrático” em favor da “reconstrução” do Haiti pode terminar em Baby Doc - Jean Claude Duvalier - eleito presidente da república. É mais fácil de ser comprado e há reservas significativas de petróleo no Haiti.
Já o povo... Como o próprio povo norte-americano é adereço no mundo neoliberal, gerido por conglomerados, o maior deles o EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
O Brasil discute a partir dos interesses dos grandes grupos que controlam a saúde e se beneficiam do festival de privatizações e terceirizações nos três níveis de governo, se o curso de medicina em Havana, onde estão centenas de jovens latino-americanos, preenche as exigências mínimas que o formando seja um bom médico.
Preenche sim, só não preenche os objetivos dos donos da saúde e seus cofres.
Os médicos formados em Cuba têm sido capaz de mostrar competência e eficiência em campos que médicos de faculdades centenárias dos EUA, ou qualquer outro país, não conseguem mostrar, ou mostram igual.
É preciso entender que um cirurgião do porte de Adib Jatene, por exemplo, é como se fosse um Picasso, ou Van Gogh na matéria. Essa é a exceção e não a regra. E Jatene tem consciência social, é bom que se diga.
Há uma diferença abissal entre o ensino de medicina em Cuba e o ensino de medicina no Brasil, se levarmos em conta o nível das faculdades privadas – em sua esmagadora maioria – a diferença fica insuperável.
É de formação, começa aí. O médico formado em Cuba, com um currículo que o torna apto a ser médico em qualquer parte do planeta, tem a visão de mundo a partir de políticas públicas de saúde, de saneamento básico. O médico brasileiro, se não for integrante das quadrilhas que dominam o setor, vai carregar uma cruz sem tamanho e sabe que vai trabalhar pelo menos doze horas por dia a troco de um salário de irrisório. Qualquer avanço que queira obter, especialização, pós, mestrado, doutorado, etc., vai depender dele, do esforço dele.
Já vi, e muitos vimos, médicos do setor público desesperados por falta de condições mínimas de trabalho e sabedores que o paciente tal ou qual vai acabar morrendo em decorrência disso. O desespero? A impotência diante do descalabro que é o setor.
A questão das doenças mentais no País, que deveria ter tomado um rumo diverso do atual, desde a aprovação de um projeto de lei que reduziu o internamento (mas mais que isso, marcou a base para políticas públicas de saúde mental), é caótica.
A imensa e esmagadora maioria dos planos de saúde, todos subsidiados com verbas públicas, tem restrições a tratamentos psiquiátricos.
A família Andrada (corrupta desde que chegou aqui com a corte portuguesa em navio chapa branca) opera em Minas Gerais uma arapuca chamada UNIPAC – Universidade Presidente Antonio Carlos.
Tem um curso de medicina na cidade de Juiz de Fora com todas as deficiências possíveis, tanto que não é reconhecido pelo Ministério da Educação, mas “reconhecido” pelo ex-governador Aécio Neves (doublê de político e alucinado).
O reconhecimento ou não do diploma dos médicos formados em Cuba é um debate que se dá exclusivamente por conta dos interesses dos grandes grupos de saúde em não ter a perspectiva de médicos formados com visão de saúde pública.
Do contrário, ao invés de termos aqui a discussão sobre a validade ou não dos diplomas dos médicos formados em Cuba, teríamos outra, uma sobre lobbyists, deputados, senadores, etc., defendendo grupos privados de saúde, políticas de privatização e terceirização do setor que simplesmente matam ou abandonam seus associados.
Os alunos que freqüentam a faculdade de medicina em Havana, por exemplo, são deportados se de outros países e expulsos se cubanos, no caso de cola. No Brasil não foram julgados e exercem a medicina médicos que, quando calouros, mataram um companheiro num trote irracional, como quase todo trote. Permanecem impunes.
A carga cubana horária é intensa, os professores têm, de fato, dedicação exclusiva. Os livros são reaproveitados e gratuitos. Uma das exigências para a matrícula é que o aluno tenha feito o ensino básico em escolas públicas (para os não cubanos). O currículo ensejou um nível na medicina reconhecido em todo o mundo a despeito do imoral bloqueio terrorista dos EUA.
Os alunos dedicam-se exclusivamente ao estudo, recebem moradia, alimentação, tratamento médico e odontológico gratuitos, têm momentos de lazer e prática esportiva e tudo a custo zero.
A diferença é na formação (embora não seja regra geral, mas é quase).
São médicos formados para a medicina popular e não para o capitalismo, o lucro.
Não há quem morra na fila de um SUS em Cuba e sobre esse assunto o cineasta Michael Moore mostra num documentário quais as diferenças entre a medicina cubana, a saúde pública e a estupidez nos EUA.
O que há em relação aos médicos cubanos é discriminação.
O Brasil é um país onde a mídia é podre. Mídia privada, corrupta e dominada pelos grandes grupos. A informação tem dois objetivos. Desinformar e alienar.
Pouco ou nada se fala da ação dos médicos cubanos no Haiti.
Ou qualquer avanço relacionado à medicina que aconteça em Cuba. Deixam sempre uma dúvida, deliberada, planejada.
O brasileiro, por exemplo, não tem a menor idéia – a esmagadora maioria – que os planos de saúde são subsidiados por verbas públicas da saúde num dos grandes “negócios” para enriquecer uns poucos.
O ideal, ao invés da discussão sobre o valor ou não dos diplomas cubanos seria um teste.
Por exemplo. Entregar duas cidades brasileiras de porte médio a um grupo de médicos formados em Cuba (uma das cidades) e a outra a grupos privados de medicina brasileiros.
Médico por médico não haveria diferença alguma (exceto se prevalecer a bandalheira e os médicos formados pelos Andradas aparecerem, não conhecem nem esparadrapo). Andradas e outras faculdades privadas.
No quesito saúde pública, não tenho dúvidas, os cubanos dariam banho, como dão. E pelo mundo inteiro.
Medicina pública envolve todas as especialidades e políticas públicas de saúde voltadas para todas as pessoas.
Onde existe medicina preventiva no Brasil exceto nos comerciais de governos dos estados ou dos municípios?
A preocupação de Roseana Sarney, por exemplo, é com contas e empresas no exterior. Dinheiro roubado ao povo do Maranhão e, lógico, boa parte da Saúde.
E aí fica difícil dizer que o ensino da medicina em Cuba é deficiente em relação ao Brasil.
A tal “deficiência” são os “negócios”.
Ou o índice de mortalidade infantil mais baixo do mundo, informação da ONU – Organização das Nações Unidas.
A Bolívia mantém centenas de médicos cubanos em seu país para implantar políticas públicas de saúde. O modelo cubano como preferem dizer alguns. Quando Evo Morales – Presidente da Bolívia – fala:“dizem que somos pobres, mas não somos pobres não, somos indígenas”, está mostrando de forma linear, clara, que os valores reais que contam na vida prevalecem ali, ao contrário dos valores de qualquer pilantra da área de saúde em governos brasileiros (qualquer nível), louco atrás de um contrato de terceirização.
E ainda mais agora com o megalomaníaco ex-secretário de saúde de Minas, Marcus Pestana, deputado federal. Se deixar por conta de gente assim privatiza-se o próprio paciente.
Que tal um debate franco sobre as faculdades de medicina privadas no Brasil? Os subsídios a planos de saúde? Os crimes cometidos por planos de saúde ao negar-se ao cumprimento da lei?
O debate sobre se os médicos cubanos têm formação acadêmica à altura dos brasileiros é pretexto para encobrir a transformação do setor num grande “negócio”.
O médico brasileiro, o médico comum, aquele que batalha o dia-a-dia, ao contrário dos “donos dos negócios”, paga, cá na ponta, o preço da ineficiência perversa, portanto deliberada, do modelo brasileiro de Saúde.
Sei de médicos que em postos de saúde públicos mandaram comprar uma simples aspirina com dinheiro do próprio bolso e ainda foram criticados e advertidos por isso.
O debate é esse. Médicos brasileiros submetidos a regime de semi-escravidão nos plantões dos grandes hospitais privados e um sem número respondendo a processos por “erros médicos”, pois a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
O problema é esse, não é se os médicos cubanos estão ou não aptos a exercer medicina com formação adequada e correta. Estão sim, em qualquer lugar.
É difícil explicar ou sustentar que médicos que obtém resultados ótimos, num conjunto de políticas públicas, como obtêm os cubanos, repito; os índices mais baixos do mundo em mortalidade infantil, o êxito no tratamento da cólera no Haiti, não tenham formação devida para o exercício da medicina aqui.
É tapar o sol com a peneira, é diagnosticar gravidez como “barriga-d’água”.
O nó é aí, não é no diploma dos médicos formados em Cuba.
Lobbyists, deputados, senadores, mídia privada corrupta atiram para um lado tentando desviar o foco real do assunto e levando as pessoas a pensarem como se fosse a realidade delas os grandes “negócios” que os donos realizam.
Quando José Serra era ministro da Saúde cismou de realizar um mutirão de saúde, operar milhares de pessoas em todo o Brasil durante determinado número de dias e foram os médicos cá da ponta, os do plantão, os do dia a dia nos postos de saúde, que disseram “não” a essa proposta de genocídio. Os donos dos hospitais, das grandes clínicas, sorriram de uma ponta a outra da boca.
O diploma de médicos cubanos e sua validade ou convalidação no Brasil é pretexto para esconder perversidade e corrupção.
Só isso, mais nada, o resto nem detalhe é.
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