"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros." (Che Guevara)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carta da UJC à população do Grande Recife sobre o aumento da passagem


A União da Juventude Comunista (UJC) vem a público se posicionar sobre os fatos em relação o aumento da passagem de ônibus no Grande Recife.
De ano em ano os empresários donos das linhas de ônibus que circulam na Região Metropolitana do Recife (RMR) propõem aumentos exorbitantes para a passagem de ônibus. Nesse ano de 2012 a proposta foi de 17,2%. O Governo do Estado propôs 6,5%, correspondendo o índice da inflação (IPCA). A proposta do governo foi aprovada pela imensa maioria do Conselho de Transportes. O Anel A que custava R$ 2,00 subiu para R$ 2,15 e o Anel B de R$ 3,10 com o reajuste passa para R$ 3,25.

De forma superficial o aumento pode até parecer irrisório, mas vejamos o impacto no orçamento de um trabalhador que ganha um salário mínimo (R$ 622,00) e pega apenas dois ônibus diariamente do Anel A (R$ 2,15) para ir e voltar do trabalho. A passagem diária fica por R$ 4,30 num valor diário do salário mínimo correspondente a R$ 20,73.  Mensalmente – considerando apenas a média de 20 dias úteis – fica assim: R$ 86,00 de passagem num orçamento de R$ 622,00. Ou seja, aproximadamente 14% do salário se destina à passagem de ônibus. Cabe relembrar que esse é um exemplo de um cidadão solteiro que recebe um salário mínimo e gasta apenas 2 (dois) vales A para ir e voltar ao trabalho, sem considerar que este trabalhador precisa se locomover pela cidade não apenas para trabalhar, mas também para acesso à lazer, cultura, e outras necessidades, além de gastos com moradia, vestuário, etc. Trocando em miúdos, queremos dizer a você que a passagem de ônibus causa impacto considerável no orçamento do cidadão, comprometendo boa parte do orçamento que poderia ser destinada, por exemplo, para alimentação.
Não podemos esquecer que muitos dos ônibus que nos transportam diariamente precisam urgentemente de manutenção, em horário de pico os ônibus desfilam pela cidade superlotados, e em algumas linhas de bairros mais populares, no final de semana poucos ônibus se revezam indo e vindo para o centro da cidade (Ex.: A linha Jardim Uchôa da Empresa Metropolitana, aos sábados circula com 3 e domingo 2 ônibus fazem o itinerário).
O Governador Eduardo Campos, eleito por número expressivo do cidadão pernambucano, em programa de seu partido político (PSB), fala em diminuir o valor da passagem através de redução de impostos. Mais uma promessa que o povo tem que ouvir e não ver ser cumprida, pelo contrário, como se não pudesse piorar a situação o Governo concede aumento, em contradição com o discurso do próprio Eduardo. Como diz o ditado: “se o que você fala não condiz com o que você pratica, por qual motivo deveria confiar em você?”. Além disso, a UJC compreende que a redução de impostos por si só não elimina a lógica perversa do transporte público como uma mercadoria, ou seja, servindo para dar lucro aos empresários enquanto a população paga caro por um serviço ruim. Para tal, é preciso a estatização do sistema de transporte, eliminando a lógica de mercado, que de fato ele seja público e sirva à população na garantia do direito de ir e vir, no direito à cidade.
Para completar a “roubalheira legalizada”, o Professor da UFPE Pierre Lucena fez uma análise histórica da tarifa e percebeu que a passagem, na verdade, está além do que deveria ser cobrado, caso os aumentos sucessivos correspondessem à inflação. De acordo com o professor: “Utilizando apenas o Anel A, podemos perceber o seguinte: a tarifa era em novembro de 1997 no valor de R$ 0,65. Se colocarmos a inflação do IPCA, hoje ela deveria ser R$ 1,55, e não R$ 2,15”. Portanto, povo pernambucano, a luta dos estudantes é mais que válida, é necessária. Se a situação tá difícil para o trabalhador, imagine para os desempregados.
A população precisa de um transporte de qualidade, eficiente, menos poluente, que atenda realmente à população, garantindo seu direito de ir e vir através do serviço público de transporte. Mas enquanto este serviço funcionar como uma concessão do Estado a empresas privadas, infelizmente a lógica do lucro estará acima de qualquer coisa, inclusive (e principalmente) de você que se vê forçado a cada ano pagar uma passagem mais cara com a mesma péssima qualidade de sempre, com um trânsito cada vez mais caótico e com ruas esburacadas que fazem do ônibus um brinquedo “pula-pula” nada divertido.
Por isso, a UJC apóia de forma militante a livre manifestação contra o aumento da passagem e condena veementemente à repressão da PM-PE e Tropa de Choque, sob comando do Cel. José Antônio (PM) e Major Maciel (16º BPM) a ordens do Governo do Estado, e exige que seja punido os excessos policiais. Achamos válido destacar ainda o papel de alguns setores da imprensa que vem tentando deturpar o protesto pacífico em “confrontos” entre estudantes e policiais. Não se pode, jamais, confundir repressão policial instrumentada de bombas de gás lacrimogêneo, bala de borracha, spray de pimenta para com estudantes armados apenas da crítica, argumentos e flores com “confronto”. Sim, flores, a imagem dos estudantes “armados” com flores (e sem espinhos) você não verá na imprensa manipuladora. Nesse sentido concluímos essa carta com a seguinte reflexão: “se você não for cuidadoso os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” (Malcom X).
Para verificar a análise detalhada do preço da tarifa pelo Profº Pierre Lucena (UFPE):
Foto do 3º protesto, que estima-se ter mobilizado mais de mil pessoas.
O movimento só faz aumentar!
Manifestantes entregam flores à PM!

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