LEANDRO ALBANI
O Haiti sofre a invasão militar estrangeira enquanto as mortes pela coléra aumentam junto às pessoas hospitalizadas.
Resumo Latino-americano/ AVN – O povo do Haiti começou a reagir por conta da situação crítica em que vive. Esta situação não está relacionada apenas ao terremoto ocorrido no início do ano e nem ao atual surto de cólera, que matou mais de mil pessoas. Também porque já não tolera a ingerência dos Estados Unidos.
É o que conta a entrevista concedida à Agência Venezuelana de Notícias (AVN) por Emmacula Nervil, integrante do Movimento Unidos Socialista Haitiano (Mush).
Há dois dias, o país se encontra entre a emergência gerada pela cólera e os protestos contra as forças militares estrangeiras, que ocupam a nação desde a derrubada do mandatário Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004.
Para Nervil, as mobilizações se devem ao fato de que o povo “já começa a reagir” em momentos de ascensão da crise e do aumento número de hospitalizados e mortos.
Nesta quarta-feira, se contabilizavam no Haiti, 1.100 pessoas falecidas e 18.382 hospitalizados, ainda que a dirigente do Mush assegure que essas cifras não são reais, já que o governo nacional não possui os dados completos.
A invasão estrangeira
Com a derrubada de Aristide por parte das forças internas apoiadas, principalmente, pelos Estados Unidos, França e Canadá, ordenou-se o envio da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), qualificada por Nervil como uma força de ocupação.
No “mapa desenhado pelo império para destruir e exterminar o povo haitiano”, a integrante do Mush indica que as tropas da ONU são parte fundamental para manter o controle e acrescentar a repressão contra os cidadãos que se organizam.
“Essas tropas têm que sair do Haiti porque mantem a pobreza no país, pois esses soldados são pagos. Não temos nenhum hospital, não temos sequer iluminação pública. A gente ilumina com velas em pleno século XXI”, explica.
Com denúncias cada vez mais frequentes, Nervil revela que uma das formas utilizadas pela MINUSTAH para reprimir é catalogando as lideranças sociais como ladrões comuns ou narcotraficantes, onde em muitos casos, essas pessoas são assassinadas.
Outra forma de ingerência contra o Haiti é promovida através da Usaid, que se infiltra nas organizações sociais e políticas, oferecendo apoio financeiro.
“Como não há o que comer, como não existe facilidade no acesso à educação e saúde, se utilizaram da entrega de dinheiro para comprar a consciência da gente. Porém, existe muita gente que eles não conseguirão comprar”, assegura.
Ainda que esta forma de ingerência busque quebrar o conjunto social do Haiti, a dirigente do Mush afirma que os movimentos seguem organizando e protagonizando lutas contra o governo nacional, o qual ela qualifica como marionete da Casa Branca.
“A única forma de ajudar o Haiti não é dando dinheiro, mas formando a juventude, preparando-a para poder vencer e trabalhar no país”, expressa.
A saída é a Alba
Diante desta situação de ingerência e de invasão, Nervil explica que a saída mais real para o povo haitiano é ingressar na Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), ainda que o atual presidente, René Preval, “esteja comprometido com o império e a oligarquia” e não disposto a fazer isso, disse.
Para a entrevistada, “graças à ajuda da Alba estamos respirando”. Também lembra a importância da presença de médicos cubanos, permanecendo no território haitiano mesmo após as tentativas de rechaçá-los.
Em abril passado a Alba ofereceu, durante a Conferência das Nações Unidas pela reconstrução do Haiti, a soma de 2.147 milhões de dólares em ajudas, superando os montantes oferecidos pela União Europeia (UE) e os Estados Unidos, colaboração que será entregue entre 2010 e 2016.
No total, o bloco regional destina ao Haiti 2.240 milhões de dólares, considerando os projetos que, atualmente, estão sendo executados no país.
“A única forma de salvar o Haiti é ingressando na Alba. Caso contrário, a ilha vai desaparecer”, reitera Nervil.
Haiti está disposto a tudo por sua libertação
Um médico a cada mil habitantes, 65% de analfabetismo, apenas dois hospitais públicos para atender toda a nação, educação privatizada e altas taxas de mortalidade infantil e fome. O Haiti vive uma situação crítica que vai além do terremoto sofrido no início do ano e do atual surto de cólera.
A aplicação de medidas políticas e econômicas desenhadas na Casa Branca, além dos altos graus de corrupção que posicionam o país entre as nações que mais sofrem este flagelo, tem como consequência que quatro milhões de pessoas vivam nas ruas.
“Neste século vinte e um estamos dispostos a tudo. Nós haitianos não vamos permitir que o império faça o que tiver vontade”, assevera Nervil.
A dirigente do Mush denuncia que nos planos dos Estados Unidos, com a desculpa das catástrofes sofridas pela nação, está o objetivo de enviar habitantes “à África e utilizar a cidade de Porto Príncipe para construir bingos e hotéis”.
Sobre o desempenho da maioria da comunidade internacional, Nervil opina que é “cúmplice da tragédia que o império ianque está cometendo em toda América Latina”.
“Querem converter o Haiti em Porto Rico, porém não vão conseguir”, expõe.
Deixando claro as verdadeiras circunstâncias que atravessa a nação caribenha, Nervil manifesta que “o Haiti é uma causa política. Não nos falta comida, mas as terras que se podem semear. O país possui recursos naturais e humanos. O que buscamos é uma saída mais política. Queremos um acompanhamento político. Não queremos dinheiro e nem comida”, finalizou.
Fonte:
http://www.resumenlatinoamericano.org/index.php?option=com_content&task=view&id=2453&Itemid=49&lang=en
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