Beirute, 14 nov. 2010, Tribuna Popular TP/ por J.A.Pina/ khaled Desouki/AFP.
Uma iniciativa que passou despercebida aos meios de comunicação ocidentais, mas que pretende ter um importante caráter político: pela primeira vez em décadas, a esquerda do Magrebe e do Macherk tenta levantar a cabeça, abrir uma nova perspectiva em uma região dividida entre o islã político e governos partícipes da estratégia norte-americana e europeia, frequentemente corruptos, e habitualmente que praticam o nepotismo.
Como coloca Khaled Haddadeh, secretário-geral do PCL: “dois projetos se enfrentam, um pró-americano que é o programa árabe chamado de Charm o Cheikh, apoiado pela Arábia Saudita, Egito, Jordânia e a Autoridade Nacional Palestina, de Mahmoud Abbas. Do outro lado se encontra uma resistência de natureza essencialmente islâmica como no Iraque, na Palestina ou no Líbano. Esta resistência carece de capacidade de interferir no projeto norte-americano como acontece no Iraque ou no Afeganistão”.
De fato, os dirigentes islâmicos são incapazes de formar alianças com a esquerda ou com os partidos nacionalistas contra o projeto norte-americano-europeu. O que sucede em Gaza, onde o Hamas é incapaz do sair de seu isolamento, é um exemplo disso. “É necessário reconstruir uma visão da esquerda, um projeto da esquerda de resistência”, insiste o responsável libanês.
Do Marrocos ao Iraque, passando pela Tunísia, Egito, Síria, Kuwait ou Sudão, cerca de trinta organizações se reuniu na capital libanesa, sinal de uma preocupação comum, porque os bloqueios são patentes nas sociedades árabes e, com a marginalização da esquerda, a existência de uma via democrática pela mudança poderia ser definitivamente descartada.
Evidentemente, de Rabat a Bagdá, as problemáticas não são exatamente idênticas. Mas estes países estão, de alguma maneira, incluídos em uma estratégia global ocidental, as linhas de força políticas e econômicas desenham um marco de arquitetura similar, embora, como sublinha Bassam Saleh, secretário-geral do Partida do Povo Palestino (PPP, comunista) : “É necessário levar em conta os lugares, as idéias diferentes e os regimes estabelecidos, mas os grupos de esquerda nos países árabes devem organizar-se e utilizar as relações com a esquerda e os comunistas no mundo.”
Em resumo, é o papel da esquerda em cada país o que foi analisado, em torno de dois eixos : o combate dos palestinos, e o combate dos povos árabes.
Nem sempre é fácil, a julgar pelas dificuldades da esquerda palestina em concretizar as novas relações estabelecidas entre o PPP, o FDLP, o FPLP e outros grupos. “O Hamas dividiu a esquerda palestina em nível de volumes e em nível de organizações”, denuncia a Frente democrática.
Também não é fácil encontrar um equilíbrio entre as diferentes estratégias, como na Tunísia, onde o Ettahadi rejeita qualquer aliança com os islamitas, ao contrário do PCOT. No Iraque, enquanto o Partido Comunista participa do governo, uma “corrente de esquerda nacional iraquiano” saiu à luz, propondo uma resistência popular. No Sudão, os comunistas estão preocupados com uma possível separação do sul, que comportaria uma radicalização do poder islâmico de Cartum.
A esquerda árabe, com freqüência marginalizada (e quando não é o caso, apoiando antes de fazer valer seu próprio poder), está muito centrada no assunto das alianças. É Preciso rejeitar, a priori, qualquer vínculo com organizações que se dizem do islã? “É necessário estudar o que é possível e trabalhar sobre pontos comuns”, opina o Partido Comunista da Jordânia. Mas para o Taggamou do Egito, “Agora existem as condições para que a esquerda recupere todo o seu espaço. Isto não tem ocorrido porque os regimes árabes desmantelaram as forças de esquerda e ajudaram às forças islâmicas”.
O Partido Comunista Libanês vai atuar como coordenador executivo para que as discussões prossigam, para que as reflexões se enriqueçam e permitam amadurecer os pontos comuns entre todas as organizações. Está prevista uma reunião das comissões de economia dos diferentes partidos e a organização de acampamentos de jovens da esquerda árabe.
“Devemos passar à ofensiva, não continuar como espectadores. Não temos ilusões sobre o equilíbrio de forças, mas é necessário começar”, diz Khaled Haddadeh.
Fonte: L"Humanité en Español/PrensaPopularSolidaria
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